O desafio do Brics será o de consolidar, na Cúpula de Fortaleza, alternativas que não se disponham a substituir organizações multilaterais ultrapassadas, mas a complementá-las.
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Acriação de um banco de desenvolvimento e de um fundo emergencial de reservas, prevista para hoje durante a 6ª Cúpula do Brics, que se realiza em Fortaleza (CE), constitui-se numa verdadeira Copa do Mundo dos países emergentes. Por isso, é importante que os comandantes dos cinco países do bloco – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – demonstrem consciência sobre a importância das decisões a serem tomadas, pois têm potencial para assegurar saídas consistentes neste momento de crise internacional. Interesses políticos e diplomáticos paralelos podem prejudicar as pretensões do grupo. Entre os riscos está a evidente tentativa da Rússia de fugir do isolamento imposto por Estados Unidos e União Europeia depois da anexação da Crimeia. O Brasil, como anfitrião do encontro, tem ainda maior responsabilidade de não cair nas armadilhas da geopolítica internacional.
O ponto em comum entre os integrantes do grupo dos emergentes é o fato de virem cobrando maior flexibilidade das organizações multilaterais de financiamento diante da gravidade da crise global. A pouca probabilidade de que isso possa realmente ocorrer reforça a importância do Novo Banco de Desenvolvimento, o New Development Bank (NDB), destinado a financiar projetos de interesse comum. Criadas depois da II Guerra Mundial, instituições como o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) já não conseguem mais atender às demandas globais de forma satisfatória. Ao mesmo tempo, esbarram em dificuldades na renovação de políticas sociais e na capacidade de financiá-las adequadamente.
Mesmo com a expansão de suas economias registrada nos últimos anos, os integrantes do Brics não conseguem ter voz entre os países desenvolvidos. O G-20 é considerado um fórum grande demais, enquanto o G-7, que reúne as maiores potências, não admite ser ampliado.
O desafio do Brics será o de consolidar em Fortaleza alternativas que não se disponham a substituir organizações multilaterais ultrapassadas, mas a complementá-las. Essa preocupação é particularmente importante num grupo que, sem se constituir em união aduaneira e sem muitos aspectos em comum entre seus integrantes, precisa revelar-se mais do que uma simples sigla
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