ENTREVISTA
Clever Pirola Ávila
Presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav)
Diário Catarinense – Qual é a análise que o senhor faz desta aquisição da Agrovêneto, empresa catarinense do Sul do Estado, pela gigante JBS, uma das líderes mundiais no processamento de carnes?
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Clever Pirola Ávila – Vejo esta aquisição como positiva, porque a JBS, que tem uma posição de liderança mundial no setor, tem poucas plantas no Brasil. Era esperado que ela buscasse plantas de boa qualidade, como a Agrovêneto, uma empresa bem posicionada, que tem experiência em exportação e trabalha forte no mercado regional. Essa empresa vai agregar a JBS valores importantes para quem quer crescer no mercado de aves no Brasil. Esta aquisição vai fortalecer o setor.
DC – Qual deverá ser o movimento seguinte da JBS, no caso desta compra ser aprovada pelos órgãos reguladores? Ela pode ampliar a unidade da Agrovêneto em SC?
Ávila – Tendo em vista o cenário mundial para o setor neste momento e a perpectiva que temos a médio prazo, não acredito que haverá um esforço de ampliação da produção. Isso porque o Brasil está com a oferta regulada entre a demanda e a procura. Uma oferta adicional de produção agora implicaria em pressionar o mercado em termos de preço. Seria mais inteligente, neste momento, fazer a aquisição, incorporar os contratos já existentes da empresa (Agrovêneto) e, a partir da melhora do mercado, fazer um plano de investimento.
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DC – Qual é a leitura que o senhor faz do cenário internacional, neste momento, para o segmento de carnes?
Ávila – Os crescimentos que o Brasil vinha fazendo, na última década, na ordem de dois dígitos, foram superados. Isso não vai mais acontecer, porque os principais mercados já foram conquistados. A participação brasileira cresceu a ponto de nos tornarmos líderes mundiais. Mas, a partir de agora, devemos ter crescimentos vegetativos, na ordem de 2% a 3% ao ano. Isso é o que o mercado pode aceitar. Acredito, assim, em um crescimento vegetativo e em uma produção estável.
DC – Neste cenário, o que deverá acontecer com o setor a partir de agora?
Ávila – O que vai acontecer é a incorporação de empresas. No mais, o Brasil vai ter que se acostumar com um crescimento vegetativo do consumo e da produção. Também estamos cada vez mais ameaçados por outros concorrentes, como a Tailândia, que está reconquistando a habilitação para exportar carne in natura. Por causa da gripe aviária, por um período de quarentena adequado, a Tailândia só podia vender carne cozida. Agora ela deve ganhar cada vez mais espaço na Europa e na Ásia.
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DC – O senhor já esperava que a JBS pudesse fazer este movimento de compra de uma unidade em SC?
Ávila – Essa aquisição não foi um surpresa. A JBS tem uma participação acentuada na produção de aves em outras partes do mundo. Acredito que o processo de aquisição de empresas é o mais inteligente no Brasil neste momento, porque a empresa não precisa colocar novas capacidades de produção. Recentemente, a JBS adquiriu a Doux Frangosul, no Rio Grande do Sul, e agora a Agrovêneto. Outras aquisições podem vir. Com estas aquisições, a JBS deve passar a ser a quarta ou a quinta neste segmento no país.
DC – Ela ficaria atrás apenas de que empresas?
Ávila – Acredito que da BRF Brasil Foods, em primeiro lugar, depois da Marfrig Seara e da Aurora.
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DC – O aumento expressivo de insumos importantes para a produção de aves, como é o caso do milho e do farelo de soja, vai frear o investimento em novas unidades ou na ampliação das existentes? Esta crise tem alguma perspectiva de ser resolvida?
Ávila – A elevação dos insumos inibe o crescimento porque os custos crescem de forma repentina e os preços dos produtos no mercado de forma gradativa. O caminho será manter a produção ou elevá-la de forma vegetativa. Esta crise não foi resolvida e nem será tão cedo. Acreditamos que a próxima safra deve manter os patamares dos insumos elevados como agora. Isso porque os contratos de compra de grãos a futuro já foram estabelecidos e os estoques mundiais estão reduzidos.
DC – E estas compras de grãos no mercado futuro estão sendo feitas com o preço elevado?
Ávila – Nunca tivemos tanto contrato a futuro feito antecipadamente como agora. Estimo que 40% a 50% da safra brasileira já esteja contratada. Antes, ficávamos na média de 30% da safra feita no mercado futuro. Os estoques baixos a nível mundial levam as compras neste mercado a ficar nso patamares elevados. Potenciais quedas nestes preços podemos ter no final de 2013 ou no começo de 2014, desde que as safras sejam normais.
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DC – Todo final de ano é positivo para o segmento de carnes. Qual é a expectativa do senhor para este final de ano, tanto no crescimento de vendas quanto em relação aos preços?
Ávila – O aumento dos custos já fez com que os preços subissem 30%. Até dezembro, este aumento deve chegar a 50% para todos os tipos de corte, apenas para que as empresas repassem a elevação de seus custos. Mas falando especificamente da linha festa (peru natalino, frango especial lançado para a data, tender e produtos similares), o aumento dos preços deve ficar em tornod e 12% a 15%. Como o consumidor brasileiro tem buscado cada vez mais produtos de valor agregado, acredito em um aumento nas vendas próximo a 8%.