O que a sociedade deseja é que a pesquisa intensifique os esforços no sentido de minimizar danos. A legislação não deve deixar dúvidas sobre os limites impostos aos estudos. ??
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A invasão de ativistas ao Instituto Royal, na cidade paulista de São Roque, deflagrou no país um grande debate que não pode, para ter consequências, se limitar a abordagens emocionais. Há evidentes radicalismos na polêmica, considerando-se as posições dos que defendem categoricamente e sem restrições o uso de animais em experimentos e, no outro extremo, dos grupos contrários a qualquer tipo de pesquisa com cobaias.
Por mais óbvio que pareça, a sensatez está nos que se posicionam ao centro, levando em conta dois aspectos essenciais. O primeiro é o que indica a total impossibilidade de os trabalhos científicos dispensarem por completo a utilização de animais. O segundo aspecto é o que deve considerar sempre o respeito às leis em vigor, para que tais pesquisas reduzam ao máximo o sofrimento, quando este não for evitável. É utópico pensar que a ciência pode se desfazer no curto prazo desses experimentos, ou trabalhos importantes seriam interrompidos.
Ressalte-se que a pesquisa científica com o uso de animais foi decisiva, entre outros avanços, para o desenvolvimento da tecnologia das cirurgias cardíacas em Santa Catarina. Medicamentos avançados também só existem porque foram antes testados em cobaias. É compreensível que alguns setores da sociedade questionem essa forma de pesquisa, por considerar que a ciência já poderia ter encontrado outros meios que dispensem a manipulação de espécies vivas. É razoável, ao mesmo tempo, que os cientistas contraponham a esse apelo o argumento de que, por enquanto, muitas áreas ainda continuam dependendo desse recurso.
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O que a sociedade deseja é que a pesquisa intensifique os esforços no sentido de minimizar danos. É importante também que a legislação não deixe dúvidas sobre os limites impostos aos estudos. O Congresso, a partir do episódio do laboratório, acelerou a apreciação de projeto de lei que aborda o assunto, o que propicia a ampliação do debate a todos os setores interessados na questão. O que deve ser evitado é a radicalização que, entre outros efeitos danosos, espalha notícias falsas sobre as condições em que os cães teriam sido encontrados nos laboratórios, ameaça criadores de cães e faz acusações indiscriminadas.
O crescimento da militância em defesa do ambiente e dos animais é um fenômeno mundial. Foi pelas bandeiras de organizações não governamentais que muitos procedimentos passaram a ser corrigidos. As manifestações devem, no entanto, contribuir para que os avanços de fato ocorram, e não para condenar sumariamente, confundir e distorcer informações.