A economia da China e sua trajetória de aprendizado sobre inovação foram os temas que trouxeram para Santa Catarina, em outubro, o professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade de Beihang, Xiangdong Chen. Ele abordou as questões em palestra em Joinville e São Bento do Sul, durante os encontros com empresários, acadêmicos, pesquisadores e professores da região. A vinda do professor foi promovida pelo Inovaparq e pela Univille, por meio da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (Agitte) e do Projeto Ideando.
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O professor chinês, engenheiro de automação industrial e doutor em economia, é um estudioso renomado no mundo e tem como principais campos de pesquisa a transferência de tecnologia universidade-indústria na inovação, na geração e circulação de riquezas no mercado mundial e sistemas inovação regional e nacional. Já realizou várias conferências e workshops nos EUA, Alemanha, Canadá, Holanda, Reino Unido, Brasil, Finlândia, Suécia, Japão, Coréia e China.
Durante os encontros no Estado, Chen falou sobre a trajetória do crescimento econômico chinês, elucidando seus erros e acertos. Fez uma retrospectiva do mercado com foco na composição do National Innovation System (NIS), que é o fluxo de tecnologia e informação entre pessoas, empresas e instituições, essencial para o processo inovador em nível nacional, segundo Chen. Na composição do NIS, explicou, há uma correlação entre política estratégica orientada, transferência de tecnologia entre universidades e indústria e concorrência orientada para o mercado com múltiplos fatores.
De acordo com ele, para chegar em um resultado econômico positivo, a China precisou de uma política industrial para inovação. Antes o país voltava sua produção para a indústria pesada ou de base, que fornecia componentes para outras indústrias, assim como peças tipo hardware, orientada a equipamentos. Era uma tecnologia considerada estável, segundo ele, porém sem grande representatividade na área da inovação. A China não fabricava produto final, com exceção de poucas áreas como a indústria têxtil, o que impedia destaque da economia chinesa no mercado internacional.
O professor disse que o caminho para se tornar a segunda maior economia do mundo foi de muitos erros iniciais "até acertar o ponto".
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— Como havia poucos profissionais com expertise em áreas da engenharia ou tecnologia, a China ficava atrás dos concorrentes — enfatizou. Um dos exemplos foi o refrigerador. Ao ser lançado para o comércio mundial, o eletrodoméstico funcionava com cinco componentes. Porém, quando a China conseguiu fabricar com precisão e qualidade seus refrigeradores, os países que haviam inovado na tecnologia já fabricavam equipamentos com apenas dois componentes.

Histórico econômico
Para se adequar ao mercado, a China iniciou modificações industriais de dentro para fora, ou seja, investiu primeiro no mercado interno, de acordo com a demanda. O objetivo das políticas públicas nesse sentido era viabilizar que as indústrias fossem colocadas onde eram necessárias num sistema chamado National Based Competition, uma competição colaborativa dentro do sistema NIS.
Em 1972, o presidente norte-americano Richard Nixon visitou a China, na primeira visita de um chefe de Estado dos EUA ao país. Conhecido como “o aperto de mão que redefiniu o mundo”, a reunião diplomática entre Nixon e Mao Tsé Tung mudou para sempre as relações econômicas da China comunista com o mundo ocidental, numa caminhada estratégica que foi se moldando com o passar das décadas, incluindo o primeiro uso permitido de patentes de produtos onde, até então, eram dominadas pelas estatais.
Antes dos anos 1980, as empresas pertenciam ao Estado chinês, e as universidades não tinham autonomia. Em 1981, a China abriu as portas para empresas estrangeiras, dentro de um sistema que ainda envolvia o governo. Ainda assim, as restrições ao comércio foram afrouxadas, e o investimento estrangeiro foi legalizado, sendo mais comuns em joint ventures entre empresas estrangeiras e unidades chinesas.
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A propriedade exclusiva de investidores estrangeiros também se tornou legal, mas a viabilidade dos empreendimentos permaneceu questionável, avaliou Chen. Ainda assim, a China conseguiu parcerias e investimentos que resultaram em 2.737 projetos oriundos de vários países. Porém, mesmo com a abertura comercial, ainda havia a necessidade de colocar as empresas onde a demanda era necessária, então cada cidade ou região recebia um certo tipo de indústria que atuava junto às universidades, endossando suas pesquisas e provendo o melhor aproveitamento educacional.
Levando em conta a abertura comercial, a partir de 1981, a China decolou como potência mundial e ganhou status de terreno fértil para investimento, o que ficou provado nos anos seguintes. Entre 1990 e 1999, foram 30.651 projetos estrangeiros investidos no país, resultando em mais de 99 bilhões de dólares em capital. Entre 2000 e 2008, o número subiu para 73.645 projetos de diferentes países, somando 166 bilhões de dólares em investimentos.
Aprendizado
Mesmo com a economia crescente, a China ainda tinha dificuldades no mercado interno com sua própria produção. Era necessário se espelhar em outros países e tentar “copiar” alguns produtos, antes de atuar em inovação. Segundo Chen, em países em desenvolvimento, que é o caso do Brasil, é muito mais difícil conseguir um produto inovador, um processo que exige muita pesquisa e mudança de cultura.
O período de aprendizado da China no desenvolvimento das tecnologias avançadas foi marcado por conquistas e lições via “transferência internacional da tecnologia” num processo de learning by doing – aprender fazendo e, na via local, upgrade nas capacidades de inovação em um combinado, entre as empresas e universidades, de competição e colaboração. Telefones celulares e trens de alta velocidade são alguns casos de sucesso que resultaram desses processos.
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Segundo Chen, diversidade de inovação fornece recursos potenciais para convergência de tecnologia local.
— A força motriz dessa diversificação tecnológica está no consórcio entre indústrias e universidade, parques tecnológicos, alta tecnologia local e internacional de SMEs – Small and Medium-sized Enterprises e Startups, e empreendedores globais — finaliza.