A cada cinco horas e 34 minutos, alguém com menos de 18 anos entra numa delegacia de Santa Catarina para registrar queixa por abuso sexual. Ou seja, a Polícia Civil atende, em média, 4,3 casos diários, o que representa 366 crianças ou adolescente vítimas de violência até a última terça-feira. O dado fica ainda mais grave porque significa aumento de 19,4% em relação ao ano passado – 3,6 ocorrências dia.

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Estes são os casos que chegam ao conhecimento das autoridades, o que nem sempre acontece. Prova disso é que 80% das meninas com menos de 18 anos idade que fogem de casa são motivadas por violência sexual, afirma o major Marcus Claudino, coordenador do programa SOS Desaparecidos, da Polícia Militar. O roteiro voltou a se repetir para uma adolescente de 16 anos, disposta a trabalhar, pagar aluguel e morar com uma estranha para não voltar para a confortável moradia, numa praia de Florianópolis. Tudo para fugir das surras e das vezes que era “tocada” pelo pai. A reclamação remonta a 2006.

Segundo a conselheira tutelar Telma Regina Gonçalves, este caso é um claro exemplo do que acontece. Ela conta que 95% dos atendimento de garotas do Norte, Leste e parte do Centro de Florianópolis relatam abusos. Nestas ocasiões, se a mãe é sensível ao problema, recebe 24 horas para registrar um boletim de ocorrência e pegar a guia para exame de violência. Quando não são tomadas providências, o próprio conselho atua. Um relatório é encaminhado para a Vara da Justiça e Juventude e procura-se um local para a vítima em casa de parentes ou abrigos.

Estrutura pequena dificulta o trabalho

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A capacidade de resolução de problemas do poder público também é parte do problema, afirma Maíra Marchi Gomes, psicóloga da delegacia que atende vítimas de violência doméstica em Florianópolis. Ela conta que a estrutura é pequena. Ressalta que sequer existem profissionais de psicoterapia e quando a vítima consegue vaga, é para atendimento em grupo, trabalho não indicado para crianças abusadas.

A psicóloga sugere que pessoas próximas a crianças e adolescente vítimas de violência doméstica procurem as delegacias especializadas da Polícia Civil, conselhos tutelares ou liguem para o disque 100, número da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que encaminhará o caso para as autoridades locais.

Maíra explica que para identificar casos de abuso, há sinais dos problemas, como mudanças físicas e de atitude. Mas não existe um padrão. A pessoa pode voltar a urinar na cama ou sofrer de prisão de ventre, por exemplo, ficar isolada ou apresentar desinibição, ansiedade e aderir ao uso de drogas.

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Ela conta a família também tem importância em evitar sequelas. A psicóloga diz que é mito achar que todos os menores abusados ficam traumatizados. Isto depende da faixa etária, da personalidade e de como as pessoas próximas lidam com a situação. Também é possível reverter a situação e o tratamento depende de cada caso.