— Estamos vivos!

Foi dessa forma que o casal Luiz e Mauriane Conte, que se conheceu em Joinville e hoje vive a bordo de um veleiro, resumiu o pesadelo de ter enfrentado o furação Irma, na última quarta-feira, em Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe. Na página mantida pelo casal no Facebook, Luiz e Mauriane fizeram um relato emocionante. Disseram ter vivido “as piores coisas da vida” e que não conseguiam encontrar palavras para expressar o sentimento.

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O casal costumava fazer viagens a bordo do barco Cascalho há pelo menos cinco anos. A embarcação foi amarrada para suportar o furacão Irma, que na passagem pelo Caribe chegou à categoria 5, a mais elevada na escala de medição dos furacões. No Facebook, Luiz e Mauriane contam que tomaram todos os procedimentos necessários para resguardar a vida deles e preservar a integridade do veleiro, a sua maior paixão.

— Depois que a primeira parte do furacão passou e, como se nada tivesse acontecendo, o sol voltou a brilhar, o céu voltou a ficar azul e o vento parou de soprar. Estávamos dentro do olho do furacão. Abrimos a porta de casa e o cenário de devastação total nos arrasou. A cidade já estava no chão. Carros virados, tudo quebrado, paredes inteiras de prédios que voaram, todas as árvores arrancadas — descreveu.

Ao ver a cena de destruição, Luiz e Mauriane correram para o píer e constataram que muitos barcos estavam perdidos. O Cascalho era um dos que continuava inteiro. Mal sabiam eles que o pior estava por vir.

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— Ficamos dentro do olho do furacão por uns 20 minutos, aí chegou a hora de enfrentar a segunda parte. Estávamos muito confiantes de que iríamos sobreviver — relatou o casal.

Ao voltarem para casa com outro casal de amigos, eles reforçaram portas e janelas, arrastando móveis pesados para se protegerem das fortes rajadas de ventos.

— A pressão atmosférica era tão grande que os ouvidos ficavam trancados o tempo todo, nos causando uma sensação mil vezes pior do que a de um avião quando pousa e decola. Tudo que estava solto pelo chão e, do lado de fora, voava e batia violentamente nas paredes, nas portas, nas janelas e no telhado. A cada novo impacto, nossas esperanças diminuíam um pouco mais.

Enquanto Luiz e Alex, o amigo do casal, protegiam a porta, Mauriane e Carla, amiga dela, se refugiavam dentro de um bunker, abrigo construído dentro do abrigo contra furacões.

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— Ficamos esperando a hora que o teto voasse, a porta se fosse e os homens viessem para junto de nós. Felizmente, esse momento nunca chegou — contou.

Quando o furacão passou e o vento diminuiu, o casal foi conferir os estragos e percebeu que o barco deles continuava no mesmo lugar, amarrado ao píer, mas não flutuava mais. Isso porque outro barco caiu de ponta cabeça em cima da embarcação, como se fosse uma folha de papel, e o afundou.

— Continuamos completamente devastados pela tragédia que nos atingiu, por todo o sofrimento, ansiedade, incerteza, por todos os anos de luta para conseguir chegar no Cascalho e por todas as alegrias vividas com ele, por cada coisinha que ficou dentro dele, por todas as lembranças… Mas estamos vivos!!! Isso é maior e mais importante do que tudo! E somos muito gratos por isso!

Em outra postagem feita neste domingo, o casal agradeceu ao apoio recebido de amigos e que, apesar de perder quase tudo, conseguiu chegar a Porto Rico em um dos poucos barcos não destruídos pelo furacão. Nesta segunda-feira, Luiz e Mauriane pretendem retornar a Tortola com uma flotilha que partirá de Porto Rico. Levarão água, comida, medicamentos, roupas e esperança para os sobreviventes da ilha.

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