A marca de 41 apreensões e de 72 pessoas presas em um mesmo ponto de venda nos últimos três anos revela o turbilhão que é o tráfico de drogas na região da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis.
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Exposto de forma radical nos últimos dias com a ação da Polícia Federal que acabou com o confronto entre policiais militares e estudantes, o comércio de entorpecentes no local de ensino e nas áreas próximas soa como um dos principais problemas de Florianópolis, conforme avaliam autoridades ouvidas pelo DC.
Ele alimenta rede de outros crimes. Faz vítimas de todas as classes, desafia policiais e reinam sinais de impunidade.
O exemplo clássico está na boca do Cesinha. A proeza de ser estourada tantas vezes e ressurgir mesmo nas proximidades de um pelotão tático da Polícia Militar, na Avenida Antônio Edu Vieira, no Pantanal, faz dela um símbolo da lucratividade do mercado ilícito de maconha e cocaína.
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Os dados revelados pelo 4º Batalhão da Polícia Militar confirmam a lógica de que se há tanto comércio incessante é porque há usuários. Policiais dizem ser esse o grande motivo da imposição do lugar, alimentador do tráfico na UFSC, ao longo de décadas e gerações.
A venda de maconha e cocaína se sustenta a um público de classe média, notadamente formada por estudantes da região, conforme a PM. Mas ainda há o fornecimento aos usuários de crack formado pela classe baixa, a maioria moradores de morros da região.
A outra razão de o ponto continuar é a dificuldade de conseguir manter na cadeia os fornecedores e distribuidores de entorpecentes.
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Policiais dizem ser habitual ninguém ficar preso por muito tempo por tráfico de drogas e que adolescentes também passaram a figurar como protagonistas do mercado ilícito.
Dos três points mais populares da história recente da UFSC, um era o bar do Pida (foi fechado), o outro a boate da engenharia e, por fim, a boca do Cesinha.
Em 2012, uma enquete no Facebook apontou que o pior acontecido na universidade por quase um semestre era o fechamento do ponto.
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Há outros lugares de tráfico na Carvoeira e Serrinha. Via de regra, a encomenda é por telefone ao traficante. Depois, a busca pessoal pela escadaria do morro e em seguida a revenda aos demais interessados.
A polícia diz que as transações são na maioria das vezes nas proximidades de bares. No episódio atual, a polêmica se deu em investigações de que traficantes estariam dentro do campus.
Líder de assaltos com 16 anos
Em 2012, ao sufocar o ponto do Cesinha, a polícia constatou a migração dos criminosos da área para os roubos.
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Houve casos de assaltos com reféns, aqueles com intensa violência, arma no rosto das vítimas, ameaças, agressões. Carros levados em bairros nobres como Jardim Anchieta e Santa Mônica foram localizados no Pantanal.
Hoje, a polícia diz que o líder desses crimes violentos seria um adolescente de 16 anos.
– O que tem de mais perverso é que as pessoas não pensam no que há por trás daquele ato aparentemente inofensivo de fumar (maconha). A pessoa deixa de comprar um tênis Nike para não incentivar o trabalho infantil na China, mas não pensa no que está aqui do lado. O tráfico se fez em cima do trabalhos de menores de idade”, diz o tenente-coronel Araújo Gomes.
O Cesinha
Paulo Cesar Alves, o Cesinha, é um antigo patrão do tráfico de drogas do Pantanal morto a tiros em uma partida de futebol no bairro, em 2009. A filha dele, Suelen Sabino Alves, que teria assumido o controle das bocas do pai, também morreu assassinada. Foi executada com sete tiros dentro do carro na noite de 1º de dezembro de 2011, na Avenida Beira-Mar Norte.
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* Colaborou Thiago Santaella
Crime recorrente
41 apreensões aconteceram no ponto de drogas do Cesinha entre setembro de 2011 e março de 2014
72 pessoas foram presas (37 homens, 10 mulheres e 25 adolescentes)
A última prisão no Pantanal aconteceu no dia 21 de fevereiro, quando três estudantes de engenharia compravam 600 gramas de maconha.
Drogas apreendidas
Crack 5.580 pedras
Cocaína 526 papelotes
Maconha 7 quilos
Fonte: 4º Batalhão da PM.