A bicicleta faz a viagem ficar mais lenta, permitindo a observação da paisagem e a percepção de aromas e outras sensações. O escritor e ciclista Charles Zimmermann conta detalhes da jornada de 747 dias pelo mundo sobre duas rodas. Confira:
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Como foi a sua rotina durante essa jornada?
Comia a comida local e sempre carregava bananas comigo. Metade dos 747 dias acampei no jardim das residências, na beira do mar, de lagos ou em estruturas de campings. A outra parte dos dias fiquei em hostels e pousadas baratas. O banho era escasso, às vezes por não haver eletricidade ou atravessar áreas com pouca água. Tomei muitos banhos de baldes com água barrenta. Quando pedalava próximo à costa tomava banho de mar, e nem todos os dias era água doce.
Por que decidiu fazer a viagem de bicicleta?
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A bicicleta proporciona viajar na velocidade das pessoas, você pode cumprimentá-las e elas podem cumprimentar você. Vejo mais de bicicleta. Posso sentir o calor, o frio, sentir a chuva e o vento, os cheiros e os aromas.
Qual foi o lugar mais marcante que você visitou?
A Índia sempre é marcante. Nessa viagem de bicicleta foi a terceira vez que fui até lá e cada vez aprendo mais com o país. Fui à Índia na época das monções. São chuvas de duas horas por dia, e pelo resto do dia o sol brilha. Mas eu não sabia que essas chuvas eram tão fortes. Era impossível tomar banho de chuva e tudo ao redor ficava alagado por duas ou três horas. E as monções são desejadas. Pessoas saem para caminhar com água nos joelhos pelas ruas afora. Numa cafeteria, ao redor de uma mesa onde colocavam copos de vidros com chai (tradicional chá com leite), homens celebravam a chuva: a água estava acima de seus joelhos.
Lembra de alguma história curiosa?
De bicicleta eu era sempre o coitado. Na Malásia, um grupo de turistas indianos que me encontrou num restaurante de beira de estrada onde parei pra tomar água de coco veio a mim. De maneira insistente perguntavam por que não viajava de ônibus. Não compreendiam porque estava de bicicleta. Num determinado momento um homem desse grupo puxou do bolso uma cédula de 100 dólares e me deu. Disse: “Agora você vai de ônibus, esse dinheiro aqui paga um bom trecho para você viajar”.
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Pensou alguma vez em desistir?
Sim, com certeza, no início. Às vezes me perguntava por que estava lá. O pensamento vinha à tona em trechos monótonos, onde cobria longas distâncias com plantações de palmeira para extração de óleo, muito comuns na Ásia, ou trechos de subidas longas, dias de ventos contrários… Por isso também comecei na Nova Zelândia, o país mais distante da viagem, transmitindo a sensação psicológica de estar sempre voltando para casa.