Em um quadro de 1935 a artista mexicana Frida Kahlo retrata uma notícia que leu no jornal. Um homem que matou a namorada com 20 facadas e disse que apenas “deu algumas facadinhas nela”. Na tela Unos cuantos piquetitos, Frida mostra a banalidade da violência contra a mulher. A barbárie que se repete por motivos absurdos. Vítima ela própria da violência, a pintora mexicana foi sempre um canal e uma voz a frente do seu tempo, uma referência. É a imagem dela vestindo vermelho e com flores na cabeça que orgulhava Bianca Mayara Wachholz, artista blumenauense autora de um painel com mais de três metros de altura em um espaço na Itoupava Seca. Desenho de Frida pintado na parede que agora tem um significado a mais. Uma história triste.
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Quarta-feira à tarde Bianca foi morta dentro da casa da mãe, na Itoupava Central em Blumenau. Atingida com um tiro no rosto, na altura do nariz, morreu dentro do banheiro onde o corpo foi encontrado pelos bombeiros, acionados pela mãe. O autor do disparo, segundo a Polícia Civil, teria sido o ex-namorado de Bianca. Ele teria fugido logo depois do crime e ainda é procurado pela polícia.
— Ao que parece a vítima (Bianca) estava morando na casa da mãe a poucos dias após o fim do relacionamento. Ele pulou o muro da residência e foi em direção a casa. A mãe dela estava em casa e viu tudo — conta o delegado Rodrigo Raitez, responsável pela investigação do caso que é o primeiro feminicídio de Blumenau no ano.
Segundo o delegado Bruno Effori, responsável pela divisão de homicídios da DIC da Polícia Civil, o ex-namorado de Bianca teria ligado para o pai logo após o crime e admitido o ato.
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Bianca tinha 29 anos, era formada em design de moda e estava trabalhando como artista visual. Além do painel de Frida Kahlo, fazia pinturas personalizadas e era uma das idealizadoras do projeto “Entre elas”, que promove encontros periódicos sobre temas voltados às mulheres. Um encontro estava marcado para hoje e falaria sobre sexualidade. A renda arrecadada nos eventos seria revertida para vítimas de violência doméstica.
Bianca já tinha relatado às amigas brigas e violência com o ex-companheiro devido ao ciúmes dele.
“Ela foi vítima de uma causa que ela queria combater”
Nos últimos meses, Bianca fez um curso voltado a empreendedoras no Fashion Lab, espaço onde está o painel de Frida Kahlo que ela desenhou, e descobriu que podia trabalhar com a própria arte. O retrato na parede foi o primeiro que fez assim que abriu a própria empresa de artes personalizadas e foi no mesmo local onde mês que vem ela iria começar a trabalhar em um espaço de coworking.
Foi no curso que Bianca conheceu outras mulheres e idealizou o Entre Elas, que teria o primeiro encontro nesta sexta. Com isso, queria ajudar a empoderar outras mulheres e também ajudar financeiramente um lar que abriga vítimas de violência doméstica na cidade.
— Ela era uma pessoa engajada, queria mudar o mundo. Ela foi vítima de uma causa que ela queria combater — destaca Simone Passarin, fundadora do Fashion Lab e incentivadora da arte de Bianca.
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