Este editorial abre uma série de opiniões do Grupo RBS sobre os principais fatos de 2013, que será publicada até o dia 31 de dezembro.

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Um dos fatos mais marcantes do ano que está terminando foi, inquestionavelmente, a eleição do primeiro papa latino-americano para o comando da Igreja Católica, na sequência da inesperada renúncia do seu antecessor. Ao abdicar do trono de São Pedro em fevereiro, o alemão Joseph Ratzinger, que adotou o nome de Bento XVI, não apenas chamou a atenção para a própria debilidade física decorrente da idade avançada, mas também para a dimensão dos problemas da instituição que comandava.

O desafio era – e ainda é – enorme: modernizar a Igreja, adequá-la aos novos tempos, enfrentar desvios morais do clero e resgatar as ovelhas desgarradas do rebanho, especialmente jovens e descrentes. Ainda é cedo para se saber se o argentino Jorge Mario Bergoglio, que passou a se denominar Francisco depois de assumir como 266º papa da Igreja Católica, conseguirá dar conta de tais encargos. Mas sua coragem, sua humildade e sua extraordinária capacidade de comunicação, evidenciadas desde o primeiro dia de pontificado, abrem novas e promissoras perspectivas não apenas para os cristãos, mas para todos os que acreditam na generosidade e na fraternidade como valores essenciais ao ser humano.

Foi essa mensagem de humanismo que Francisco deixou aos brasileiros na histórica Jornada Mundial da Juventude de agosto passado, sua primeira viagem internacional. Milhares de jovens de todos os continentes reuniram-se no Rio de Janeiro para ver o Sumo Pontífice assumir a condição de singelo servidor da fé e passar ao mundo pregações de desapego, alegria e confiança. O Papa aproximou-se do povo, pregou a tolerância, defendeu a igualdade, combateu o consumismo e colocou a Igreja na condição de servidora das gentes – em contraponto à instituição controladora de espíritos e vontades em que estava tornando-se.

Simples, bem-humorado e inteligente, o papa Francisco já não é visto apenas como chefe supremo dos católicos, mas como uma liderança mundial afinada com os novos tempos, que usa as mídias sociais para se comunicar e que fala com franqueza e sinceridade sobre qualquer assunto de interesse da humanidade, inclusive sobre temas delicados como aborto, homossexualidade e contracepção. Ao invocar mais compreensão e menos condenação, ao criticar a idolatria ao dinheiro e condenar a ostentação, o primeiro papa jesuíta da História resgata a esperança de um futuro mais digno, igualitário e feliz para a comunidade humana.

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