Quando questionada por que escrevia, Clarice Lispector de pronto devolvia a resposta em forma de pergunta:

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– Por que você bebe água?

Escrever é assim. É uma necessidade quase vital de transformar pensamentos em imagens que pretende-se inesquecíveis para quem lê. Pode ser escritor famoso ou aquele que publica sua produção de forma independente. O que move ambos é o desejo de que o leitor embarque na sua viagem literária.

Se para o escritor consagrado, além de um bom trabalho, é preciso uma ação estratégica de marketing para alavancar as vendas, imagine para o iniciante. Chegar até o leitor exige mais do que uma história bem contada. Vida de escritor estreante é como início de namoro: há a crença de tudo vai dar certo, mas nenhuma garantia de futuro. No caso do autor, o envolvimento dá-se de forma unilateral. O livro é a isca para fisgar o leitor. Mas como se sobressair num mercado altamente competitivo, onde muitas vezes a compra é decidida pela capa ou o posicionamento da obra na livraria? As ilhas estrategicamente montadas nas lojas formam uma barreira para o leitor. Um best-seller, com capa caprichada e em local de destaque, representa venda garantida.

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A maioria dos escritores banca a publicação de seu primeiro livro por meio da chamada edição do autor. É um trabalho quase artesanal. O escritor entrega os originais para uma gráfica que imprime o texto. Mil livros custam em torno de R$ 5 mil. Este valor pode mudar dependendo do acabamento, tipo de papel, capa, entre outras variáveis. Não há números sobre este mercado quase paralelo da literatura, que se tornou um negócio rentável para gráficas e pequenas editoras.

– Apostar em novos nomes é um risco mas é muito legal ver a satisfação do autor em poder mostrar o seu trabalho para amigos e familiares – comenta o editor Nelson Rolim que atua há 17 anos no mercado.

A maioria das livrarias exige não só um padrão de qualidade, mas também um percentual sobre o valor de capa. Hoje, com algumas variações, a regra é 40% para distribuidora, 30% para o livreiro, 30% para a editora e apenas 10% vai para o autor. Com esses percentuais nem é preciso dizer que a vida de escritor é dureza, já que o dinheiro chega na mão aos poucos, salvo a vendagem dos best-seller.

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Vinícius Alves, diretor da Bernúncia Editora, diz que dar a oportunidade para novos escritores é importante para a descoberta de talentos emergentes, e recomenda aos autores que sigam por caminhos alternativos para ganhar popularidade.

Uma das saídas é deixar o papel de lado e migrar para o mundo virtual. A literatura se tornou um nicho interessante de mercado. A troca é simples: o leitor fornece conteúdo e o site dá a visibilidade. Há páginas que oferecem espaço para a publicação gratuita de livros. Dois dos mais respeitados no Brasil são www.clubedeautores.com.br e a rede social www.bookess.com. Tanto Clube de Autores quanto Bookess disponibilizam gratuitamente a versão online da publicação, com possibilidade de customizar o trabalho, além de espaço para a troca de saberes entre escritor e leitor. O autor paga apenas a versão impressa. O bom da internet é que seu livro estará sempre acessível.