Nascida em 1923, no mesmo terreno onde mora até hoje, na Praia da Armação, no Sul da Ilha, Izolina Machado Oliveira, a dona Ina, se assusta com a transformação de Florianópolis ao longo de 89 anos. A região onde cresceu era quase desabitada. As poucas casas que existiam na época, sítios rurais, eram emolduradas por lavouras e árvores frutíferas. Hoje, o local é cercado de asfalto e muito barulho.
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Dona Ina mora em frente ao trevo da Armação, na SC-405. Na propriedade na qual criou os quatro filhos, duas mulheres e dois homens, 15 netos e nove bisnetos, várias casas se aglomeram ao longo de uma servidão, todas elas da própria família.
– Isso aqui era tudo mato. A gente plantava milho, feijão, cana, tinha até engenho de farinha. Para ir ao Centro da cidade, comprar uma roupa ou vender renda, tinha que ser a pé. A gente acordava com o primeiro cantar do galo, porque não tinha relógio, e só conseguia estar de volta à noite. A caminhada era longa – recorda.
Ela faz as contas, do jeito que sabe: a energia elétrica só chegou quando o filho mais novo, hoje com 48 anos, tinha seis; e o asfalto, quando o neto de 30 anos era gerado.
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– Era tudo mais bonito. Mais calmo. Rendeira, dona Ina hoje só produz para dar as rendas de presente. Mas a habilidade já foi responsável pelo sustento da família.
– Meu marido ia para a roça ou para o mar, pescar, e eu ficava fazendo renda. Assim criamos nossos filhos – diz.
Existe alguma coisa boa na Florianópolis de hoje, dona Ina?
– Ah, tem. Antes tinha que esperar o caminhão passar com os peixes. Hoje, é só comprar, já limpinho, na peixaria. Tem ônibus para levar para o Centro. Florianópolis é uma cidade muito boa, mas quase não saio daqui. A Armação é a minha casa.