O Brasil passa a viver a partir de hoje algo que se tornou inevitável. As falhas da esquerda enquanto governo e a incompetência dos partidos tradicionais em se valer dessa brecha refletiram nas urnas e determinaram na eleição de Jair Bolsonaro (PSL). Em um partido pequeno que se engrandeceu em 2018 e construindo a candidatura há quatro anos, o candidato eleito comprou para si a repelência à corrupção e se tornou o preferido por 55% dos brasileiros para se tornar o 38º presidente tupiniquim.
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Na rua em frente ao Condomínio Vivendas da Barra, na Zona Sul do Rio de Janeiro, é fácil entender esse contexto. Milhares de pessoas paramentadas com vestes abrasileiradas faziam do asfalto uma Praça da Apoteose. Tudo para festejar – com muita ênfase – a vitória de Bolsonaro. E nesse carnaval fora de época montado em uma nobre região carioca teve direito até a trio elétrico, mas sem marchinhas. Nas caixas de som, em vez de Cartola, Martinho da Vila e Bezerra da Silva, os hits que ecoavam eram jingles de ode aos dois dígitos e sua onda, que puseram fim à hegemonia do PT nas eleições presidenciais: o tal 17.
O ponto de encontro desse aglomerado de gente estava localizado na porta de entrada para o condomínio em que mora Jair Bolsonaro (PSL), o protagonista. Uma comemoração que começou a partir dos primeiros minutos após as 19h e tinha um quê de desabafo. Três semanas antes, nesse mesmo lugar, muitos dos rostos presentes ontem estavam ávidos por uma definição em primeiro turno – que não ocorreu. Ontem, logo após a abertura das urnas, o empurra-empurra entusiasmado era consequência de uma sensação de alívio. Tudo motivado pela ascendência do capitão da reserva que passou de militar revoltado que reclamava dos salários em 1986 para presidente da República, três décadas depois.
E essa tal chegada de Jair Bolsonaro à condição de chefe-mor da mãe gentil representa – além do suprassumo da carreira política do deputado federal – uma grande ironia. Isso porque na hierarquia militar, “capitão” não é a maior das patentes. Mas no Brasil, pela primeira vez alguém com esse status será o comandante supremo das Forças Armadas – que é uma das funções atribuídas ao presidente. E mais: o capitão terá como vice um general, em uma democrática inversão de valores na qual o oficial intermediário tem mais voz do que o alto escalão do Exército. Claro, essa analogia só faz sentido porque há democracia no Brasil.
Independentemente da graduação militar, Jair foi içado ao topo por apoiadores anônimos que o fizeram um Messias caricato que se tornou pop – um Arnold Schwarzenegger nem tão hipertrofiado, se assim for possível comparar. E aí é só juntar esse status de celebridade com ideias que o fizeram entrar em um universo impenetrável pela esquerda, para entender o porquê da propulsão de Bolsonaro à presidência. Isso o tornou a cereja do bolo de um movimento que despachou velhos patrões da política em cima de um discurso baseado, entre outras coisas, em renovação. Algo que extrapola o Comandante Moisés e seu tom de voz zen e linear: Wilson Lima (PSC-AM), Romeu Zema (Novo-MG), Coronel Marcos Rocha (PSL-RO), Antonio Denarium (PSL-RR) e – por que não? – até João Dória (PSDB-SP). Todos formam esse grande bolo construído em camadas e que gradativamente caiu no gosto do eleitor enfurecido pela Operação Lava-Jato e seus intermináveis capítulos, sempre com diferentes personagens, enredos e desilusões.
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Fato é que a eleição presidencial de 2018, a mais marcante da história do Brasil, chegou ao fim. Outra começará a partir de 1o de janeiro de 2019, mas dessa vez o protagonista não será um metalúrgico com o uniforme azulado, e sim um capitão verde-oliva com aversão aos tons avermelhados. E nessa paleta de cores, espera-se agora que todas sejam respeitadas – do branco ao negro, do amarelo ao pardo – e do arco-íris também.
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