Todos os dias quando acorda, o primeiro pensamento de Rute da Silva Reis, 56 anos, é em Bary. Ao levantar de manhã, a dona de casa confere religiosamente se o computador ligado pelo filho mostra nova mensagem da jovem levada para Israel ao nascer, 27 anos atrás, em uma adoção ilegal.
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Rute foi localizada em março, em Camboriú, no Litoral Norte catarinense, a partir das buscas da filha biológica. Em quatro meses, a vida sofreu uma reviravolta. Ela só pensa em abraçar Bary Livny, com quem quer conversar e restaurar o vínculo materno. Por enquanto as respostas vêm somente por escrito.
– Às vezes ela deixa recados e já disse que me ama – conta Rute, abrindo um sorriso.
A vida simples, cercada por mais oito filhos e o marido que conheceu há 25 anos, não preenche mais o vazio da mãe que já nem esperava rever a filha, até receber a visita de policiais militares do SOS Desaparecidos, da PM, que junto à ONG Desaparecidos do Brasil, em Florianópolis, se empenharam na procura e na confirmação de documentos.
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O exame de DNA ainda não foi feito, mas a semelhança entre as duas é evidente. Bary já começou as aulas de português. Sua vontade é ter desde a primeira conversa com a mãe sem intermediários. Enquanto isso, Rute amarga a espera de uma distância que não diminui.
Há 27 anos as condições da dona de casa eram bem diferentes. Tinha um filho para criar quando engravidou de Bary, morava e trabalhava na casa de estranhos e, em troca de teto, deu a filha a desconhecidos.
– “Esta você não vê mais”, me disseram, e me tiraram ela depois de dar de mamar. Se eu tivesse onde ficar com ela, nunca teria deixado – lembra.
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Nos últimos dias, a ansiedade de Rute aumentou. Ela tem dificuldade de dormir e recorre aos remédios. Quando vê a foto de Bary, em instantes os olhos se enchem de lágrimas:
– Não vejo a hora de encontrar com ela, pedir perdão. É um trauma que só conversando com ela pra explicar tudo. Eu a amo demais.
:: Conversa sem intermediários
Distante da agonia de Rute, em Israel a filha Bary se mostra feliz e tranquila. Publicou em sua página no Facebook uma foto de quando a dona de casa de Camboriú era mais jovem e escreveu em hebraico: “encontrei a minha mãe”.
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Trocando mensagens, descobriu que tem três irmãos por parte de pai e mãe. Eles conversam por mensagens recorrendo ao tradutor online. Antes de se colocar diante da mãe, mesmo em frente à tela do computador, Bary quer aprender português, mesmo que demore. A jovem também pretende fazer o teste de DNA, mas as semelhanças entre as duas diminuem a urgência. No ano que vem, Bary virá ao Brasil, promessa que inquieta Rute e toda a família.