O que seria mais temível? A gripe H1N1, influenza A, ou suína, mal que volta a atacar com o friozinho deste fim de inverno? Ou o surto de cleptomania que emana de Brasília e dos centros do poder, e que parece não ter prazo para terminar, a não ser quando o Tesouro da República se despedir de seu último Real? Uma brutal desconfiança flutua entre os vizinhos, ao menor sinal de um espirro, de um mero pigarro, um acesso de tosse. Os encontros compreendem diálogos perigosos.
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– Bom dia! Atchim!
– Atchim? Você está gripado? Vade retro!
– Claro que não estou gripado. Foi só um espirrinho comum!
– Comum? É o hálito da morte! É uma irradiação de vírus assassinos!
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– Kof, kof! – hamrraramm! – nada disso, é só um pigarro. Um engasgo na epiglote…
– Prendam o homem! Tá querendo me contaminar!
Como na Idade Média, em que as doenças transmissíveis e letais – peste bubônica, cólera ou hanseníase – confinavam os contaminados em vales de grandes cavernas, distantes dos perímetros urbanos, o pânico já se espalha pelas esquinas e pelos ambientes que concentrem mais do que meia dúzia de pessoas.
Um suspiro já é motivo para “investigação”. Um espirro, abre uma clareira no meio da multidão:
– Olha a gripe ratoide aí, gente! Sebo nas canelas!
Pois é. Parece que essa gripe contaminou a alta administração de uma maneira radical. Falta o IBGE fazer agora o recenseamento dos ratos que infestam a gestão pública, transformada numa ratoeira repleta de queijos e de ratazanas. Não se trata da gripe espanhola, a célebre pandemia que ceifou mais de 20 milhões de vidas em 1918. Nem da febre da dengue, causada pelo minúsculo mosquito Aedes egypti, que esconde poderosa peçonha por trás deste solene nome latino. É muito pior: é uma gripe universal, um vírus “mutante”, que troca de veneno de hora em hora.
°°°
É a gripe de cleptocracia explícita que assola o país, a famosa “ratoide”, cujos sintomas se espalham pelos plenários, ministérios e empresas públicas.
É só algum político ou administrador de segundo escalão espirrar e – zás! – saem de seus bolsos nomeações de piratas, verbas da Comissão de Orçamento, os incentivos “culturais”.
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Náuseas que acabam provocando enjoo instantâneo em 207 milhões de brasileiros.
A vacina, gente, é o voto…
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