Novo diretor geral do Serviço Florestal do Ministério da Agricultura, o deputado federal catarinense Valdir Colatto (MDB) — que não conseguiu se reeleger —, é o segundo representante do Estado nos escalões mais altos do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Antes dele, o empresário Jorge Seif Júnior, de Itajaí, assumiu o comando da Secretaria Nacional de Pesca e Aquicultura, também subordinada à Agricultura.
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Colatto conta que já vinha conversando com a ministra Tereza Cristina sobre a possibilidade de ajudar no ministério e que aceitou o convite na quarta-feira, sendo anunciado no mesmo dia aos servidores do Serviço Florestal.
Criado em 2006, o Serviço Florestal Brasileiro era vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. No dia 1° de janeiro, Bolsonaro editou uma Medida Provisória (MP) para reestruturar o governo e o serviço passou a ser vinculado ao Ministério da Agricultura. De acordo com o site do órgão, cabe ao SFB "promover o conhecimento, o uso sustentável e a ampliação da cobertura florestal, tornando a agenda florestal estratégica para a economia do país".
Engenheiro agrônomo e integrante da bancada ruralista na Câmara dos Deputados, Valdir Colatto já fez discursos críticos ao percentual de terra que deve ser conservado pelos produtores, mas afirma que a agricultura é o único setor que realmente atua pela preservação ambiental. No novo cargo, o catarinense diz que seu grande esforço será pela implantação efetiva do Código Florestal, o que, segundo ele, solucionará os impasses entre a agricultura e o meio ambiente.
Confira os principais trechos da entrevista com o deputado Valdir Colatto:
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Ninguém consegue plantar soja ou milho ou criar um boi em um apartamento
Como foi o convite para dirigir o Serviço Florestal?
A gente vinha conversando há algum tempo sobre oportunidades de colaborar com o ministério. Dentro do meu perfil de engenheiro agrônomo e do trabalho de anos com o Código Florestal. A ministra me chamou na quarta-feira, conversamos no gabinete dela e depois ela foi no Serviço Florestal e me anunciou lá para os funcionários.
Além do conhecimento técnico, o senhor avalia que o apoio à campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL) também pesou na escolha do seu nome?
Não sei se ele foi consultado para essa função diretamente, mas ele me conhece, sabe que eu trabalho por ele, fomos colegas há 20 anos e fazemos parte do projeto dele como um grupo de deputados que sempre lutou para acabar com a corrupção, por uma política mais correta. Por detalhes não fui candidato a senador pelo PSL ou pelo MDB com apoio ao Bolsonaro. Mas o MDB acabou optando por uma outra composição política, fez o acordo com o PSDB que deu errado.
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O senhor citou o Código Florestal. Ele será sua principal bandeira?
Nessa área que a gente trabalhou nos últimos 10 anos, de Código Florestal, andei o Brasil todo sabendo exatamente o que está acontecendo e agora tem que implantar esse código. A lei foi aprovada há sete anos e até agora só fizemos os cadastros. Agora tem toda a parte de fazer os ajustes nas propriedades, ver o que falta. Aí você não precisa a cada atividade que for fazer precisar pedir licença ambiental, toda essa burocracia. Uma vez que você certificou que a propriedade está ambientalmente correta, a pessoa continua com sua atividade, mantendo a propriedade, o meio ambiente e a produção, acabando com esse conflito de toda hora você estar fiscalizando, multando, indo pra cima do pessoal. O próprio produtor vai se conscientizar do que tem que fazer e vai de uma vez por todas regularizar a situação. No momento que você fizer o cadastro (da propriedade) e implantar o Código Florestal, está resolvido o problema das florestas. Está dizendo exatamente onde tem que deixar a floresta, a reserva legal, onde pode plantar, onde não pode, cuida da água. É muito completo. Está tudo dentro do código, mas tem que implantar.
Como o senhor avalia o conflito entre meio ambiente e agricultura e as críticas em relação ao setor produtivo nessa questão?
Primeiro acho que é desconhecimento da realidade. E segundo, o interesse desse conflito é de pessoas que usam o meio ambiente como fachada para fazer política ideológica. E são interesses não só brasileiros, mas internacionais de impedir que a agricultura desenvolva, criminalizando a agricultura, que é a única área que realmente preserva o meio ambiente. A agricultura coloca o patrimônio do agricultor à disposição do meio ambiente, outros não fazem isso. cada proprietário aí no Sul tem que deixar 20% (da propriedade) para preservar o meio ambiente. Imagina se deixássemos uma fábrica, um apartamento, só para preservar o meio ambiente. Então o pessoal joga uma coisa errada. O agricultor é que faz de fato a preservação do meio ambiente e apanha ainda por isso. Ninguém consegue plantar soja ou milho ou criar um boi em um apartamento. Hoje tem mais matas das propriedades privadas, que chega a 20,5%, do que todas as áreas florestais oficiais do Brasil, que chega a 13,5%.
O senhor defende redução desse percentual?
Brasil tem que decidir o que ele quer em seu território. Se pegar as florestas que estão nas propriedades privadas, mais parques, terras indígenas e terras devolutas, 74% do Brasil é vegetação nativa. Então o Brasil vai ficar segurando 74% ou vai aumentar o plantio? É uma decisão que tem que ser tomada, pela sociedade. Se nós definirmos que vamos preservar isso, defendemos que alguém pague por esse serviço ambiental para o Brasil e para o mundo. Lá fora nos cobram para preservar a floresta, mas ninguém quer ajudar com nada. A Europa tem 10,4% de floresta e briga conosco que temos 74%. O mundo quer que nós preservamos? Vamos preservar, mas vamos fazer com que isso seja uma renda para o país, para o produtor, para quem preserva. Tem que organizar. Preservar o meio ambiente, mas com planejamento, com ações, não só com discurso.
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