A 9ª Bienal do Mercosul soltou seus primeiros sinais de fumaça, com o lançamento da próxima edição da megamostra, que será realizada de setembro a novembro de 2013, em Porto Alegre.

Continua depois da publicidade

No final da tarde de ontem, um ato simbólico seria oficializado com emissões de fumaça em frente ao prédio da Usina do Gasômetro, quando seriam apresentadas à imprensa a equipe de curadores e as primeiras ideias sobre o conceito que guiará a mostra de arte contemporânea.

Para preparar terreno para a Bienal, uma série de ações de divulgação está prevista ao longo do próximo ano, lançando reflexões sobre as mudanças ocorridas ao longo dos tempos com o desenvolvimento dos meios de comunicação.

Inspirando-se nos aspectos históricos da relação entre homem e natureza e em questões envolvendo arte, ciência e tecnologia, a Bienal de 2013 discutirá como os artistas visuais referem-se ao desconhecido, ao imprevisível e aos fenômenos aparentemente incontroláveis. Assim, a curadoria sinaliza que deixará de lado referências explícitas e diretas ao Mercosul – temas como território, fronteira e identidade estiveram presentes em maior ou menor grau nas oito edições, desde 1997.

– Mais do que um conceito, esta Bienal promete um conjunto de questões relacionadas à interação entre natureza-cultura, usando a história e os usos da tecnologia como uma lente transversal para explorar possibilidades: situações para mudar o passado, situações para viver melhor no presente e situações para imaginar e construir uma pluralidade de futuros – diz a mexicana Sofía Hernandez Chong Cuy, diretora artística e curadora-geral da 9ª Bienal.

Continua depois da publicidade

Se a palavra de ordem é promessa, outras já foram feitas. Com a revitalização prevista nos armazéns do Cais Mauá, o local deixará de ser o cartão-postal da Bienal do Mercosul. Os principais espaços serão a Usina do Gasômetro, o Santander Cultural e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Há um desejo de deslocar atividades para a Ilha do Presídio, mas nada confirmado ainda. Outros locais serão escolhidos para abrigar as programações artísticas e pedagógicas. O objetivo é que cada espaço receba mostras e atividades distintas.

Nos próximos meses, a Bienal 2013 começará a se configurar e estruturar. Paralelamente às ações de divulgação planejadas, os curadores viajarão pelo Brasil e por países da América Latina com o objetivo de convidar cerca de 90 artistas brasileiros e estrangeiros, entre nomes representativos e iniciantes. Além de obras já finalizadas, a Bienal também buscará projetos para serem realizados especialmente para o evento – alguns deles, durante a própria mostra.

Mas até lá, a Bienal ainda mandará novos sinais de fumaça.

Conheça o corpo de curadores da Bienal

Sofía Hernandez Chong Cuy

Diretora artística e curadora- geral

Mexicana radicada em Nova York, é curadora e escritora. Este ano, trabalhou na 13ª Documenta de Kassel, na Alemanha, uma das maiores mostras de arte do mundo. É curadora de arte contemporânea da Colección Patricia Phelps de Cisneros, baseada em NY e Caracas. Faz parte da equipe de pesquisa da Bienal de Veneza de 2013.

Raimundas Mala?auskas

Curador do Tempo

O lituano é curador e escritor. É conhecido por apresentar exposições de arte por meio de sessões espíritas no projeto Hypnotic Show. De 1995 a 2006, Mala?auskas foi curador de exposições e desenvolveu projetos no Contemporary Art Centre, em Vilnius, capital da Lituânia. Atualmente trabalha na 13ª Documenta de Kassel, na Alemanha.

Continua depois da publicidade

Dominic Willsdon

Curador pedagógico da Nuvem

O inglês é educador e curador. De 2000 a 2005, foi curador de Programas Públicos na Tate Modern, em Londres. Atualmente é curador no San Francisco Museum of Modern Art (SFMOMA) e professor adjunto no California College of the Arts. Tem escrito sobre cultura visual, política e educação, sendo coeditor da publicação The Life and Death of Images: Ethics and Aesthetics.

Sarah Demeuse

Curadora da Nuvem

Nascida na Bélgica, é especialista em literatura em línguas românicas. Sua pesquisa sobre literatura espanhola tem foco na crítica artística, no impacto das novas tecnologias nas relações entre cultura visual e escrita. Em 2010, junto com Manuela Moscoso, fundou o Rivet, um escritório de curadoria que promove exposições com projetos de publicações, eventos e outras iniciativas.

Daniela Pérez

Curadora da Nuvem

Mexicana e curadora independente. Entre 2007 e 2011, foi curadora associada no Museu Tamayo, na Cidade do México. Também trabalhou no Museu de Arte Moderna de São Paulo, no The New Museum, em Nova York, e no Museo de Arte Carrillo Gil, na capital mexicana. Foi uma das cofundadoras do de-sitio, plataforma que desenvolve projetos de arte contemporânea.

Júlia Rebouças

Curadora da Nuvem

Curadora, crítica de arte e pesquisadora brasileira. É mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais. Desde 2007, faz parte da curadoria do Instituto Inhotim no Brasil, onde atuou na criação da Escola Inhotim. Desenvolveu vários projetos de curadoria independentes no Brasil. É membro da Red Conceptualismos Del Sur, rede de pesquisadores da América Latina.

Continua depois da publicidade

Mônica Hoff

Curadora de Base

Artista, educadora e pesquisadora brasileira, com formação em Artes Visuais, Pedagogia da Arte e Economia da Cultura. Desde 2006, coordena o Projeto Pedagógico da Bienal do Mercosul. Em 2010, desenvolveu o projeto educativo para a mostra Horizonte Expandido, com curadoria de André Severo e Maria Helena Bernardes, realizada no Santander Cultural em Porto Alegre.

Bernardo de Souza

Curador do Espaço

Curador e crítico, graduado em Comunicação Social pela PUCRS e pós-graduado em Moda e fotografia pelo London College of Fashion, é professor na pós-graduação em Moda da ESPM. Dirige o departamento de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal de Cultura da Capital. É membro de conselhos da Fundação de Cinema do RS, da Fundação Vera Chaves Barcellos e do Museu de Arte Contemporânea do RS.

Entrevista com Sofía Hernandez Chong Cuy, diretora artística e curadora-geral da 9ª Bienal do Mercosul

Zero Hora – Em torno de que conceito está sendo planejada a 9ª Bienal do Mercosul?

Sofía Hernandez Chong Cuy – A Bienal oferece mais promessas do que conceitos. Uma promessa é articular questões ontológicas e tecnológicas por meio da prática artística, da criação de objetos e da nossa experiência. A segunda promessa é identificar, propor e repropor transformações nos sistemas de crenças e analisar inovações. A terceira promessa é encontrar recursos naturais e material cultural sob uma nova luz e especular sobre os marcos que situam distinções entre descoberta e invenção.

Continua depois da publicidade

ZH- Questões como território, fronteira e identidade, constantes em outras edições da Bienal do Mercosul, estarão presentes?

Sofía – Apesar de não serem abertamente abordadas, não há dúvida de que estas questões são de fato preocupações do cotidiano, pelo menos de qualquer um que esteja pensando criticamente sobre a produção da cultura. Dito isso, certamente haverá preocupações ou temas abordados por alguns dos artistas ou dos trabalhos que participarão da Bienal.

ZH – Como você entende o significado da expressão Mercosul? E como os países integrantes estarão representados na mostra?

Sofía – A equipe curatorial estará conduzindo uma pesquisa de campo na região do Mercosul nos próximos meses, para se reunir com artistas, produtores culturais e intelectuais, bem como visitar arquivos e coleções. Esta investigação irá culminar na seleção de artistas e obras de arte. Nas próximas semanas, diferentes membros da equipe viajarão pelo Brasil – para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo – bem como para Buenos Aires. Tenho planos de viajar para Paraguai, Uruguai, Peru e Equador.

Continua depois da publicidade

ZH – A mostra terá obras já criadas e encomendas de projetos?

Sofía – Haverá ambas. E além da nova arte, também estamos investigando a arte criada nas décadas de 1960 e 1970, com planos de organizar uma exposição “histórica”. A ideia é criar um diálogo com o passado e o presente e entender também como o passado previu o futuro.

ZH – Como o público será convidado a participar?

Sofía – Haverá diversas maneiras de convidar e envolver o público. Na verdade, as estratégias de comunicação para esta Bienal são bastante particulares. Refletirá sobre as mudanças históricas na tecnologia de comunicação ao longo dos séculos. Canais de mídia servirão não só para divulgar informações, mas também como instrumentos de mediação entre a Bienal e o público.