O acesso à cultura e, especialmente, ao cinema, ganhou atenção na pauta nacional ao ser tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (3). Com o assunto “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, a redação trouxe aos alunos a chance de debater a situação cultural do país em vários cenários, do acesso físico ao cinema, da questão social em relação aos preços e centralização dos espaços, e das poucas telas para as obras nacionais ou fora do circuito de grandes produções hollywoodianas.

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Dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) em um levantamento com informações de 2018 mostram que o acesso aos espaços culturais é uma dificuldade no Brasil inteiro. Conforme a pesquisa, Santa Catarina é o sexto Estado do país com mais salas de cinema, mas, mesmo assim, cerca de 90% das cidades catarinenses não têm sequer uma sala de projeção. Ao todo, existem 148 salas de cinema em Santa Catarina — o que representa 18% de todo o país, mas os espaços estão concentrados em 30 municípios.

Com base na população catarinense, o resultado são duas salas de cinema para cada 100 mil habitantes do Estado. O detalhamento desses espaços para os filmes mostra também que 37% dos cinemas estão localizados no Centro das cidades

Salas de cinema em SC
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Para o professor de Produção Audiovisual da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e especialista em economia da cultura, Pedro Bughay Aceti, a situação do cinema repete um cenário da cultura em geral no Brasil e em Santa Catarina: a falta de políticas públicas de incentivo:

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— Se o número de salas de cinema é baixo, o de teatro é menor ainda. Deve ser falado em acesso à cultura, a filmes, livros, peças de teatro, museus. Em Santa Catarina temos a questão da falta de telas para a produção nacional, o que é importante para a questão da identidade nacional. Eu moro em Balneário Camboriú, por exemplo, e Bacurau (filme brasileiro vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 2019) não passou em nenhuma sala da região. O filme da Hebe, selecionado para o Festival de Gramado, ficou uma semana em cartaz. Falta incentivo, cota de telas para essas produções, e o governo não faz questão — afirma.

Pedro cita também a centralização das salas de cinema nos grandes centros, com projetos de interiorização pontuais em algumas regiões do Brasil:

— Em São Paulo teve uma política de descentralização, construíram salas de cinema na periferia. No Rio Grande do Sul faziam caravanas levando produções locais e nacionais para o interior, em Pernambuco tem uma um edital da fundação cultural voltado à produção no interior. Assim como tudo no Brasil, saúde, educação, falta essa descentralização da cultura.

Número de salas por estado
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