Desde março, 155 idosos de Blumenau morreram por conta da Covid-19. Prioridade na campanha de vacinação, 89% deles não tomaram a vacina ou ainda não estavam imunizados por completo contra a doença, conforme um levantamento obtido com exclusividade pelo Santa. Alguns não tiveram tempo de receber as doses antes de serem contaminados por causa do ritmo lento da campanha. Outros, porém, por motivos desconhecidos, ignoraram a oportunidade.  

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Quando a campanha começou, em janeiro deste ano, os profissionais da saúde e idosos foram os primeiros dos grupos prioritários. À época, Coronavac era a vacina disponível, o que significa que a segunda dose veio em um intervalo de duas a quatro semanas, acelerando a completa imunização dos contemplados. Um dos lares de idosos visitados pelos vacinadores naquele início foi o Santa Clara, no bairro Vila Nova.

A administradora da instituição, Ingrid Ruediger, conta que a notícia da chegada da vacina entusiasmou os 30 moradores, que aguardavam ansiosos pelo momento depois de quase um ano sem poder ter contato com as famílias, apenas em visitas com distanciamento no jardim ou no portão. Do grupo, uma hóspede não recebeu a aplicação porque os familiares não autorizaram. Desconfiados da rapidez com que a vacina foi desenvolvida — apesar de o imunizante ter passado por todos os testes —, eles optaram por deixá-la sem proteção.

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O posicionamento contrário à vacinação pode ser uma das explicações para o alto índice de idosos mortos que não estavam imunizados. Do total, conforme levantamento da Secretaria de Promoção da Saúde a pedido do Santa, entre 1º de março e 14 de julho, 66% das pessoas com mais de 60 anos vítimas da Covid-19 não tinham registro da vacina. Entre os 52 moradores que possuíam, 67% não estavam completamente protegidos, ou seja, apresentaram os sintomas antes da segunda dose (D2) ou nas duas primeiras semanas após a aplicação da D2.

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Até o começo de julho, mais de 26 mil idosos receberam as duas doses. A vacinação para quem tem 60 anos abriu apenas no começo de maio. Há muitos que ainda aguardam a segunda aplicação. Dos 155 mortos no período analisado, quase 50 tinham mais de 80 anos.

— Seria ideal que todos aderissem à vacinação e que ela fosse eficaz em todas as faixas etárias, mas no mundo real sabemos que essas duas coisas não acontecem — constata o infectologista Amaury Mielle.

Estudos sobre as vacinas

Entre as vítimas idosas de março a julho, 17 (10,9%) apresentaram os sintomas depois de 15 dias da aplicação da segunda dose. Não é possível, porém, avaliar esse número isoladamente, já que vários outros estudos são necessários para chegar a alguma conclusão. É nisso que pesquisadores da Universidade Regional de Blumenau (Furb) têm trabalhado.

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Eles buscam entender qual o perfil dos que morrem mesmo com a imunização, qual a taxa de mortalidade entre os vacinados e não vacinados, a efetividade das doses e tantos outros detalhes essenciais, mas que levam tempo para serem desvendados e interpretados. Os primeiros relatórios devem ficar prontos antes do fim do ano. Um deles, já feito, mostra uma redução de 70% na taxa de mortalidade entre vacinados e a queda na faixa etária das vítimas, que também pode indicar o efeito positivo da vacina.

Mas ela não é perfeita. Mielle lembra que nenhum imunizante tem 100% de eficácia e que a resposta imunológica de cada pessoa varia, sendo mais complicada em idosos de idade avançada. Ainda assim, as vacinas são necessárias enquanto protocolo de saúde pública e para dar fim a uma pandemia. Engana-se quem pensa que ser imunizado é um ato em benefício próprio. O coletivo é quem ganha mais.

Vacinação contra coronavírus em Blumenau é feita na Vila Germânica
Vacinação contra coronavírus em Blumenau é feita na Vila Germânica (Foto: Patrick Rodrigues)

— Não temos que pensar que vamos eliminar o vírus. Vamos ter que conviver com ele, de maneira que o torne enfraquecido e vire uma gripe. E isso só será possível com imunidade de grupo. O vírus continua circulando, mas em menor quantidade e sem tendência de formar mutação — explica o infectologista.

Como será Blumenau quando esta campanha da vacinação se aproximar do fim ninguém consegue prever. Enquanto a situação continua delicada, a equipe do Lar Santa Clara age com cautela. As poucas visitas aos idosos ainda precisam de distanciamento, ar livre e uso de máscara, e os passeios a casas de familiares são restritos. Tanto zelo tem dado resultado. Antes da vacinação, duas moradoras testaram positivo, mas nem sintomas apresentaram. Desde a imunização, todos estão bem.

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— Toda vacina começa em algum momento. É para o bem de todos, da humanidade — opina Ingrid.

Vacinação em casas de repouso de Blumenau foi feita no começo da campanha
Vacinação em casas de repouso de Blumenau foi feita no começo da campanha (Foto: Patrick Rodrigues)

Internação de jovens e idosos

Os dados obtidos com exclusividade pelo Santa ambém mostram que 191 pessoas foram internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) por complicações da doença entre 1º de março e 14 de julho. Apenas 24% delas, 46 pessoas, tinham mais de 60 anos. A mudança no perfil dos pacientes em casos graves é algo percebido há meses por quem trabalha na linha de frente. Entre os 46, mais da metade não estava vacinado; 12 chegaram a tomar as duas doses, mas precisaram de internação.

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Foi o que aconteceu nessa semana com Anna da Silva, de 89 anos, que morava no bairro Glória. Ela tomou a vacina há cerca de três meses, mas faleceu na terça-feira (20) por conta de várias complicações de saúde, incluindo as causadas pelo coronavírus. A neta, Letícia da Silva, conta que Anna tinha comorbidades e que ficou mais fragilizada depois de uma cirurgia de intestino no mês passado.

A família tomou cuidado para evitar a contaminação, mas aconteceu. Depois de um fim de semana com muita fraqueza e dor no corpo, Anna pediu que fosse levada ao hospital. A internação e confirmação da doença ocorreu na segunda-feira, um dia antes da morte por insuficiência respiratória.

— Todo mundo é bem consciente na nossa família, ela tinha comorbidades, estava muito frágil. A Covid-19 foi a última gota d’água de um copo que já estava cheio — acredita a neta.

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— Tudo influencia [na efetividade da vacina], doença de base, tempo de imunização, idade… — ressalta Mielle.

“Sim” para a vacina

É unânime entre especialistas que a vacinação ocorra e o mais rápido possível. Independentemente das falhas que ela possa apresentar, apenas com alta cobertura vacinal será possível ter respostas concretas sobre o futuro. A erradicação do coronavírus ainda é um sonho, mas muitos tentam fazer a sua parte.

Até esta sexta-feira (23), 159,5 mil blumenauenses procuraram a Vila Germânica com horário agendado para garantir a primeira dose. Já receberam as duas ou a dose única, 62,1 mil. A estimativa da prefeitura é vacinar 277 mil moradores com mais de 18 anos. Enquanto a campanha avança a passos lentos, o ritmo das internações segue alto. São 53 pessoas internadas em UTIs por conta da doença em Blumenau, o que gera 80% de ocupação.

Para diminuir esses números, a vacina é a esperança.

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