Confira a programação completa da Festa das Flores
Aos poucos, a paixão pelo verde começou a ser cultivada. Em particular, a senhora gostava de observar as árvores imperiais da Rua das Palmeiras. Ali, também teve o seu primeiro contato com flor que iria marcar para sempre a vida: as orquídeas. Mais de 30 anos depois, a paisagem da cidade mudou, trocando as árvores por edifícios e construções. Ainda assim, Marlene tenta manter vivos os espaços naturais, dentro do terreno de casa.
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– Eu me agarrava naqueles coqueiros (na Rua das Palmeiras), ficava cheirando aqueles olhos-de-boneca. Um dia peguei uma e enfiei dentro do meu caderno e levei para casa. Imagina se não levei um corretivo – relembra a senhora.
Aos 67 anos, Marlene orgulha-se do jardim projetado e cultivado com as próprias mãos. Na frente da casa dela, há plantas de todos os tipos – desde cactus a flores da época. A vegetação divide espaço com pedras de diversos tamanhos e tipos, objeto também de grande fascínio para ela. Se o amor pelas plantas foi cultivado desde menina, o interesse pelas rochas foi lapidado com a ajuda do pai, o escultor Mario Avancini.
– O meu pai era escultor. Acho que por isso eu também tenho esse amor por pedras. Agora já tem 20 anos que ele faleceu – conta.
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A aposentada investe no jardim há aproximadamente 12 anos. A manutenção é feita por ela de tempos em tempos, já que na hora de planejar o espaço levou em consideração a utilização de materiais e plantas que não precisassem de manutenção diária. O quintal simboliza uma parte importante da residência, já que atua como uma espécie de convite para o local.
– Por menor ou mais simples que seja, pode ser até um pé de Comigo-ninguém-pode, qualquer plantinha. Se for parte de um serviço feito com carinho em uma casa é o cartão-de-visita do lugar – garante.
Mesmo apreciando – e cultivando – vários tipos de plantas, a senhora tem uma predileção pela “rainha das flores”: a orquídea. Nos fundos do imóvel, Marlene guarda o tesouro com apreço: diversas espécies, de formas e cores diferentes, formam um amplo orquidário. A oportunidade de manter as áreas verdes ocorre porque a senhora mora em uma casa com terreno com espaço suficiente para a casa e os jardins.
Ainda que nem todos os joinvilenses dispõem deste ambiente, algumas alternativas de jardins e hortas já são observadas em varandas de apartamentos espalhados pelo município. Segundo Marlene, é cada vez maior o número de pessoas que procurar reintegrar-se à natureza, mesmo dispondo de pouco espaço.
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– Agora, muitos fazem jardins em edifícios, por exemplo. Têm pessoas cultivando legumes, verduras e ervas dentro de prédio. Eu acho isso maravilhoso! Esse vai ser o futuro dos nossos jardins – conclui.
Jardins em prédios reconectam à natureza
O crescimento do processo de verticalização em Joinville demonstrou um aumento expressivo nas duas últimas décadas. No decorrer dos últimos 17 anos, o número de apartamentos na cidade passou de 11.219 para 31.747, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar do aumento, ao aumento ainda é considerado lento se comparado a outros centros do país, em Estados como São Paulo ou Paraná.
Com os edifícios em maior número, a paisagem urbana passa a ter mais elementos em concreto e aço do que na cor verde. Em Joinville, o movimento é perceptível principalmente no Centro e arredores, onde grandes prédios estão sendo construídos. Na tentativa de retomar o contato com a natureza, hortas e jardins verticais despontam nas varandas, sacadas e terraços joinvilenses.
Valorizando essa busca – de unir o concreto com o meio ambiente – surgiu o tema da 79ª Festa das Flores de Joinville. Neste ano, o evento foi intitulado Jardins do Futuro para instigar nos visitantes a reflexão sobre a importância de integrar natureza e tecnologia.
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Segundo o arquiteto e especialista Silvio Parucker, paisagista da festa, construir um jardim do futuro é pensar em devolver ao meio-ambiente aquilo que o concreto e o aço vêm retirando ao longo dos anos – com o crescimento da construção de edifícios cada vez mais altos, por exemplo. Pensar em jardins do futuro é aproveitar as coberturas, terraços e varandas – geralmente sem utilização nestes prédios – para construir áreas verdes sustentáveis no meio da paisagem urbana.
Além dos prédios, as praças e passeios públicos também perderam as áreas naturais com o passar dos anos, para darem espaço a outros tipos de construção. O especialista cita o exemplo das praças da Bandeira e Nereu Ramos que, antigamente, possuíam gramados e árvores. Esses espaços agora são estampados com um cenário mais cinza, devido a utilização de materiais como a pavimentação com paver.
– As praças devem ser contemplativas, não é somente para uso de eventos e ponto de encontro. Esses locais também devem servir como áreas de contemplação do verde que a gente vai esquecendo – afirma Parucker.
A relevância da escolha do local
Ainda de acordo com o especialista, na hora de projetar esses jardins é preciso levar em consideração alguns critérios para desenvolvê-los com qualidade ambiental. É necessário olhar a qualidade ecológica, sócio-cultural e ambiental, técnica – saber como fazer, qualidade econômica, de gestão (como a manutenção) e local.
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– Este último critério é o que o pessoal muitas vezes esquece. O tipo de local, clima e luz são fatores muito importantes principalmente na hora de escolher as espécies vegetais – completa.
Uma das iniciativas para criar uma área verde no Centro da cidade encontra-se em um prédio recém-construído, na Rua Jaguaruna. No local, foi projetado um amplo jardim na área comum. Segundo Diego Pretto, diretor de corporação da empresa responsável pelo edifício, a ideia é possibilitar as pessoas uma aproximação com a natureza em meio ao cenário urbano.
– Criação de pulmões verdes no Centro da cidade. A fauna acaba se adaptando naturalmente e várias espécies de pássaros, como beija-flores, começam a utilizar o espaço – justifica a iniciativa.
A realização do projeto do imóvel contemplou diversas tecnologias que possibilitaram a criação do espaço verde. Como por exemplo, a adequação da estrutura do empreendimento para receber o jardim sobre a laje. A preparação do solo – com a adubagem lenta ideal para pequenos espaços –, drenagem sobre o paisagismo e também a captação e reaproveitamento da água da chuva.
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– No projeto existe o sistema de irrigação automática. A chuva recolhida é distribuída automaticamente com temporizadores que variam de acordo com o porte e as espécies das plantas – afirma.