Na esteira do crescimento do consumo de produtos orgânicos no Sul do Brasil, a agricultura orgânica de Joinville apresenta expansão e já contabiliza cerca de 70 famílias produtoras de alimentos livres do uso de químicos prejudiciais a saúde e ao meio ambiente. Os agricultores da região formam quatro grupos certificados pela Rede Ecovida de Agroecologia, que estimula a participação solidária dos produtores para fiscalizar e assegurar a qualidade dos orgânicos joinvilenses.

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O setor ainda se apresenta de forma tímida no mercado local, caracterizado principalmente por pequenas produções de hortaliças, cana de açúcar e poucas frutas (banana e abacaxi, em menor escala), mas denota um potencial importante: pesquisa recente do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), mostra que, em agosto, 23% dos consumidores pesquisados nos três estados do Sul do País afirmaram ter comprado algum produto de origem orgânica – maior índice nacional.

De acordo com Beto Amaral, engenheiro agrônomo e gerente da Unidade de Desenvolvimento Rural (UDR) de Joinville, a valorização dos produtos orgânicos frente aos mesmos produtos de origem convencional pode variar de 30% a até 200%, dependendo do cultivo.

– Apesar de ser uma cultura que exige mais mão de obra, maior controle de manejo e custo, o segmento dos orgânicos acaba gerando um produto de maior qualidade e sendo lucrativo, porque muitas vezes não conta com atravessadores para chegar ao consumidor final. Com isso, quem ganha é o agricultor – aponta.

Na avaliação do engenheiro agrônomo, outro fator que corrobora para a expansão é a busca das pessoas por opções mais saudáveis e sem resíduos químicos ou mesmo para melhorar a qualidade de vida, em casos de pacientes em tratamento para doenças como o câncer.

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– A agricultura orgânica é um conceito, está na raiz dos produtores, não é apenas uma escolha que está na moda. Quem produz geralmente é "pé no chão", tem conscientização ambiental e contempla uma série de fatores para manter uma certificação de qualidade e atender o mercado de Joinville – considera Amaral.

– Em contrapartida a ampliação dessa nova linha de agricultura, sem veneno, não podemos demonizar os agricultores que utilizam os químicos adequadamente. Não devemos criar uma barreira e dizer que não se pode mais usar defensivos agrícolas, mas chamar a atenção para que sejam aplicadas as doses necessárias e não além do recomendado, porque para muitas culturas não é possível viabilizar a colheita sem este tipo de produto. Por isso a cultura orgânica é na verdade um conceito no amplo sentido da palavra – completa.

Incentivos e maior potencial de crescimento

Atualmente, as famílias com certificação de qualidade da Rede Ecovida realizam reuniões regulares e trabalham em conjunto para manter a excelência dos produtos produzidos em cada propriedade. A Prefeitura de Joinville, por meio de profissionais agrícolas também garante orientação e acompanhamento técnico das lavouras orgânicas.

Segundo Beto Amaral, mesmo que um agricultor decida começar hoje um cultivo orgânico a certificação não é imediata e é necessário ao menos um ano e meio de assistência para que ele possa pleitear o selo. Ao término deste período é preciso contemplar uma série de regras, que envolvem a área de plantio, a adesão a nota fiscal de produtor rural, bem como declaração de aptidão para a atividade e documentos atualizados das terras em que os orgânicos serão produzidos.

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O município também encaminhou um pedido de recursos ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para viabilizar um projeto que visa incentivar a criação de feiras itinerantes nos bairros da cidade. A solicitação ainda é analisada pelo Governo Federal junto a outras quatro propostas e contempla duas tendas 10x10m², além de 50 barraquinhas menores com paletes, caixas de verduras e estrutura completa para fazer feira livre.

– Este é um trabalho que exige também certo convencimento da participação dos agricultores orgânicos, que ainda têm receio de ampliar a produção e se sentirem empresários rurais. O potencial desse mercado é gigantesco e quanto conseguirmos explorar o espírito empreendedor desses produtores a tendência é de que o segmento cresça ainda mais – avalia Beto Amaral.

Produção sustentável e mudança de vida

Valdir Batista, produtor de cana de açúcar orgânica
Valdir Batista, produtor de cana de açúcar orgânica (Foto: Salmo Duarte, A Notícia)

Muitos são os motivos que levam famílias rurais da região a investirem na produção de orgânicos. Para alguns o que conta é a questão de saúde e da sustentabilidade, outros veem o investimento como vocação. Um dos exemplos dessa diversidade vem do Sítio Caminho Neudorf, onde o subtenente aposentado da Polícia Militar Valdir Batista mantém a única plantação orgânica certificada de cana de açúcar de Joinville.

— Dos 20 aos meus 45 anos dediquei a vida a carreira militar e fui feliz trabalhando nisso, mas quando esse ciclo se encerrou, decidi que era a hora de iniciar um novo momento e investir no sítio e migrei para a agroecologia — afirma.

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Desde 2011, Valdir (56) decidiu apostar no setor devido a uma paixão por plantas medicinais que fora ensinada por sua avó paterna. Ele então procurou um especialista da UDR e questionou qual era a melhor qualidade de cana de açúcar para a região. Com a resposta em mãos, ele começou a produzir cana de açúcar do tipo havaiana, 100% natural, e também gengibre, açafrão, aipim e outros – produtos certificados há seis anos.

— Com essa produção não busco competir com agricultores de outras cultivares e nem com vendedores de caldo de cana, quis investir nisso por mim e faço desde o preparo do plantio até a comercialização, buscando uma fatia de mercado diferente e centrando as vendas na Casa Krüger, em lojas de produtos naturais, e em feiras e eventos — Valdir.

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