Sob a alegação de “corte de gastos”, Larissa Pimentel de Oliveira, 19 anos, foi demitida de uma lotérica de Florianópolis em fevereiro deste ano. Começava ali sua peregrinação pelos bairros da cidade em busca de recolocação no mercado de trabalho. Ela trabalha desde os 15 anos e nunca havia ficado tanto tempo desempregada.
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— Já perdi a conta de quantos currículos enviei, de quantas empresas visitei, do quanto bati perna por aí atrás de trabalho — revela a moradora de Ingleses, norte da Ilha.
Disposta a trabalhar em telemarketing ou vendas, áreas em que possui experiência profissional, ou ainda como assistente administrativa, área em que tem curso, Larissa fica desanimada mesmo é com “a falta de respostas” de muitos empregadores.
— Quase ninguém responde quando envio os currículos. Às vezes telefono, dizem que vão retornar, mas esquecem. Isso desanima um pouco — relata.
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Ontem, Larissa foi até a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE/SC), braço do Ministério do Trabalho no centro da Capital, para acompanhar familiares que dariam entrada na rescisão contratual. Conversou com a reportagem da Hora, e mostrou confiança que a busca por emprego chegará ao fim nos próximos dias.
— Estou confiante em uma vaga de telemarketing para a qual entreguei currículo esses dias. Espero que me chamem — disse, ansiosa para sair todos os dias de Ingleses para trabalhar no Centro, onde fica a empresa contratante.
Dados mostram panorama assustador
Larissa não é a única desempregada com dificuldade para conseguir uma recolocação. Apenas nos seis primeiros meses deste ano, 6,5 mil postos de trabalho foram fechados em Florianópolis. Só em junho foram foram 1,5 mil vagas a menos.
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É um número muito alto. Para se ter uma ideia, durante todo 2015 foram eliminadas 2,3 mil vagas em Florianópolis. Ou seja, já atingimos quase três vezes todos os desligamentos feitos no ano passado. Em Santa Catarina, mais de 7,2 mil postos de trabalho foram fechados neste primeiro semestre.
Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados quarta-feira pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS).
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Serviços e comércio no topo do desemprego
Os setores mais afetados no primeiro semestre deste ano em Santa Catarina foram comércio e serviços. Somente em junho deste ano, segundo os dados do Caged, foram fechadas 4.174 vagas em serviços e 2.119 no comércio. O vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Lidomar Bison, explica muitas vagas perdidas ocorreram por conta do fechamento de lojas. Somente em 2015, exemplificou, 14% das empresas nos comércios fecharam as portas. Aumento da carga tributária e o aumento de número de ambulantes nas ruas de Florianópolis também são preocupantes, ressalta Lidomar.
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— Não estamos conseguindo responder ao comércio informal. Temos buscado apoio do poder público, mas parece impossível de se controlar — lamentou.
Para tentar driblar e evitar a falência, os comércios estão enxugando postos de trabalho e renegociando os valores dos aluguéis das lojas.
— Tem muito comerciante demitindo funcionário e ele próprio indo para trás do balcão para se manter. Ou quem tinha duas lojas, fechando uma — explica Bison.
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Retomada em novembro
Uma possível retomada na economia está diretamente ligada ao aumento de confiança do consumidor, avalia ainda o vice-presidente da CDL. Somente quando o cliente não estiver mais assustado com o aumento de impostos, com a possibilidade de não ser demitido, que ele voltará a consumir.
— Existe uma série histórica. Quando a indústria vai mal, demora alguns meses para o comércio ir mal. E quando a indústria começa a melhorar, que é o período que estamos vivenciando agora, também demora um pouco mais para a retomada do comércio — observa Lidomar.
A retomada, acredita ele, deve ocorrer somente por novembro, quando muitas das lojas devem procurar trabalhadores temporários para a temporada de verão.
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Evolução do emprego formal de Florianópolis, por ano
2002: 3.224
2003: 4.655
2004: 7.445
2005: 1.610
2006: 4.729
2007: 9.643
2008: 7.111
2009: 9.214
2010: 9.185
2011: 9.033
2012: 4.441
2013: 7.866
2014: 4.144
2015: -2.300
2016 (janeiro a junho): -6.580
Fonte: Caged