Poderiam ser seus cinco gêneros ou subgêneros preferidos, cinco usos marcantes de trilha sonora em seus filmes ficcionais, cinco frases inesquecíveis ou influências incontestáveis. A obra de Martin Marcantonio Luciano Scorsese, cineasta americano de ascendência italiana nascido no Queens, em Nova York, em 17 de novembro de 1942, é múltipla e aberta a inúmeras reflexões – e repleta de curiosidades, além de tudo. São 30 longas-metragens, de Quem Bate à Minha Porta? (1967) a A Invenção de Hugo Cabret (2011). Alguns deles, de tão bons, aparecem de maneira recorrente em qualquer lista que se faça. Outros ficam para trás – mas, mesmo entre estes, há muita coisa boa a ser descoberta. Confira:

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Filmes fundamentais

– Táxi Driver (1976)

Clássico sobre a alienação e as frustrações de um taxista comum – um “cavaleiro solitário” motorizado – e seus consequentes atos de violência na Nova York dos anos 1970. Com Robert De Niro, Cybill Shepherd e Jodie Foster.

– Touro Indomável (1980)

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Vai ser difícil um filme sobre algum esporte superar a saga do desregrado boxeador Jake La Motta (De Niro) nesta cinebiografia filmada em preto e branco que venceu “apenas” os Oscar de melhor ator e montagem – merecia mais.

– Os Bons Companheiros (1990)

A sedução da criminalidade e suas leis próprias poucas vezes foram tão bem exploradas no cinema como nesta trama sobre os movimentos da máfia na Nova York pré-Rudolf Giuliani. Com Ray Liotta, Robert De Niro e Joe Pesci.

– Os Infiltrados (2006)

O filme que deu o Oscar a Scorsese, após oito indicações (seis a melhor diretor e duas a melhor roteiro), é um destaque da nova onda de títulos calcados na ação de espiões infiltrados. Com Leonardo DiCaprio e Mark Wahlberg.

– A Invenção de Hugo Cabret (2011)

Uma tocante homenagem ao primeiro sonhador do cinema, Georges Méliès, e também um inventivo exercício sobre as possibilidades de encantamento a partir das novas tecnologias como o 3D. Com Asa Butterfield e Chloë Moretz.

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Temas recorrentes que perpassam sua obra

– A família acima de tudo

Descendente de italianos, Scorsese estrutura sua dramaturgia, invariavelmente, em torno de núcleos familiares – a família, tradicional ou a da máfia, é uma instituição absolutamente sagrada.

– A fé e a culpa católica

Desde o martírio do personagem de Harvey Keitel em Quem Bate à Minha Porta? (1967), seu primeiro longa, o cineasta construiu uma obra na qual os valores da formação católica estão sempre em xeque.

– A gênese da violência

Os inúmeros atos de violência funcionam como causa ou consequência dos movimentos de seus personagens. Em compensação, Scorsese sabe ser um romântico, como mostrou em A Época da Inocência (1993).

– Um homem contra todos

O lugar do indivíduo na sociedade está na pauta de quase todos os seus filmes – em boa parte deles, o protagonista luta contra tudo e contra todos para obter seu espaço e poder usufruí-lo.

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– Para e pelo cinema

Os documentários Minha Viagem à Itália (1999) e A Personal Journey with Scorsese Through American Movies (1995) resumem a cinefilia de Scorsese, além das muitas referências pontuais em seus longas de ficção.

Filmes que resumem obsessões musicais

– Woodstock: três dias de paz, amor e música (1970)

Scorsese trabalhou como assistente de direção e montador no filme de Michael Wadleigh sobre o festival que mudou o curso da cultura pop.

– O Último Concerto de Rock (1978)

Já como diretor, assinou este memorável registro do show de despedida da The Band, que contou com antológicas participações de Neil Young e Bob Dylan, entre outros. O líder da banda, Robbie Robertson, tornou-se parceiro de Scorsese nas trilhas de seus filmes.

– No Direction Home (2005)

Scorsese abriu o baú de Bob Dylan para descrever a revolução que o artista promoveu nos anos 1960, sobretudo ao eletrificar sua folk music com a guitarra.

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– Shine A Light (2008)

Os Rolling Stones são onipresentes nas trilhas de Scorsese. Ganharam dele este flagrante ao vivo espetacular.

– George Harrison: living in the material world (2011)

Um tributo ao músico com imagens inéditas da vida discreta e espiritual que Harrison procurou manter após a beatlemania.

Aparições como ator em seus próprios longas

– Táxi Driver (1976)

De barba, terno e gravata, Scorsese é um homicida muito doido conduzido pelo taxista Travis Bickle (Robert De Niro) ao apartamento onde sua mulher o estaria traindo.

– Touro Indomável (1980)

Na sequência final, o cineasta interpreta um assistente que entra no camarim, interrompendo o monólogo de Jake La Motta (De Niro). Pelo espelho, o espectador apenas vê seu ombro, mas a voz de Scorsese é inconfundível.

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– O Rei da Comédia (1983)

O diretor interpreta aqui um… diretor (de televisão). Dois anos mais tarde, em Depois de Horas (1985), ele apareceria como iluminador rodando um filme numa sequência dentro do Club Berlin.

– A Época da Inocência (1993)

O realizador faz uma ponta como um fotógrafo. O curioso é que, em A Invenção de Hugo Cabret (2011), ele também interpreta um retratista de outros tempos.

– Gangues de Nova York (2002)

Scorsese é Henry von Cataco (1809 – 1889), um rico proprietário de terras da época (na cena do quebra-quebra no jantar).

Cenas memoráveis

– Táxi Driver (1976)

Travis Bickle (Robert De Niro), de moicano e jaqueta militar, despeja sua fúria por meio de uma pistola num final sanguinário. Ainda mais forte (segundo o próprio Scorsese, a sequência mais violenta que ele filmou) é a morte de Nicky (Joe Pesci), a golpes de taco de beisebol em Cassino (1995).

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– Touro Indomável (1980)

O monólogo final de Jake La Motta (De Niro), citando frases de Sindicato de Ladrões (de Elia Kazan), fecha um filme recheado de sequências mpressionantes. E é também um dos grandes monólogos de seus personagens à frente do espelho (outros: DiCaprio repetindo “The way of the future”, em O Aviador, e De Niro repetindo “Are you talking to me? em Táxi Driver).

– Os Bons Companheiros (1990)

O filme com o mais marcante plano-sequência de Scorsese (o do bar Copacabana) também tem uma cena inesquecível, tensa e divertida, na qual Tommy (Pesci) ameaça Henry (Ray Liotta) “de brincadeira” numa mesa de mafiosos. Em Caminhos Perigosos, outra grande cena de bar: a entrada em cena de Johnny Boy (De Niro) ao som de Rolling Stones.

– A Época da Inocência (1993)

A pudica imagem de Newland Archer (Daniel Day-Lewis) abrindo a luva de Ellen Olenska (Michelle Pfeifer) ganha a intensidade explosiva de uma cena erótica neste filme em que Scorsese, inspirado em clássicos dramas ambientados nos salões sofisticados das elites (Carta de uma Desconhecida, de Ophüls, e O Leopardo, de Visconti), reproduz com emoção contida o clima de repressão social da alta sociedade nova-iorquina do século 19.

– Gangues de Nova York (2002)

A épica batalha inicial impressiona, mas talvez esteja mais presente na memória a sequência de The Butcher (Day-Lewis) descobrindo que Amsterdan (Leonardo DiCaprio) é filho de um antigo inimigo que ele matou em combate.

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