Conversei com o presidenciável Fernando Haddad (PT) na última terça-feira, em breves 5 minutos e 10 segundos entre a entrevista coletiva que concedeu no diretório estadual do PT, no Centro de Florianópolis, e o comício que realizou em frente à Catedral.

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Leia a íntegra da entrevista:

Quando Lula foi candidato, tinha como vice José Alencar, um empresário filiado ao Partido Liberal. Dilma Rousseff trazia como vice Michel Temer, do MDB, um profissional da articulação política. O senhor tem como vice Manuela d’Ávila, do PCdoB, quase uma chapa pura pela proximidade histórica dos partidos. Indica um governo mais à esquerda do que com Lula e Dilma?

A Manuela representa 52% da população, que é de mulheres. Acho muito importante as mulheres estarem presentes no governo desde o anúncio da chapa. Vejo como um avanço a presença dela.

Há um clima beligerante na política e uma necessidade de reconstruir o espaço do debate civilizado. Como construir isso? O senhor acha que o PT ajudou a contribuir para chegar a esse momento?

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Não acredito nisso. Acredito que o ex-presidente Lula e a ex-presidenta Dilma foram pessoas do diálogo, nunca foram hostis a nenhum setor da economia, nenhum setor da sociedade, pelo contrário. Foram quatro eleições ganhas por nós em um clima extremamente democrático. Eu penso justamente que o nosso sucesso ensejou da parte da oposição um comportamento que não se esperava, já reconhecido por algumas lideranças do PSDB.

O senhor era prefeito de São Paulo em junho de 2013, no estopim das manifestações de rua que resultaram nesse antipetismo que hoje é forte em parte da sociedade brasileira. Como o senhor avalia esse sentimento?

Eu não acredito que tenha nascido da sociedade. Acho que nasceu da manipulação, sobretudo dos grandes meios de comunicação que resolveram demonizar uma força política porque eram derrotados a cada eleição.

O senhor como prefeito de São Paulo conseguiu fazer uma grande renegociação da dívida com a União invejada por governadores e prefeitos. Se eleito presidente, indo para o outro lado do balcão, como pretende conduzir essa questão, especificamente com os governadores de Estados como Santa Catarina, que teme virar o próximo Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul?

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A renegociação de São Paulo beneficiou todos os 176 municípios que estavam na mesma situação. Portanto, apesar de eu ter liderado o processo, não foi sob encomenda para mim.

Sim, mas do outro lado do balcão, como o senhor pretende tratar os governadores nessa situação?

O pacto federativo vai ser resolvido com a reforma tributária.

O senhor tem falado em um imposto sobre valor agregado (IVA) para substituir impostos federais, estaduais e municipais que incidem sobre consumo. Essa proposta tem sido citada por outros candidatos, como Ciro Gomes e Geraldo Alckmin. Qual é o ente que cobra o IVA?

Vai ter um fundo comum, como é o Simples, com uma regra de repartição.

Como o senhor acha que uma vitória do PT seria encarada pelo futuro Congresso. Teme que possa sofrer um impeachment também?

Eu penso que o Congresso reavaliou o impeachment como um erro. Tanto é que vários parlamentares já se manifestaram em favor da minha candidatura em favor disso.

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Como pacificar a sociedade, como acabar com esse clima de confronto que estavam vendo nessa eleição?

Vai ser necessário muito diálogo e sinais, sobretudo do próximo presidente, na direção da consolidação da democracia e da volta de um ambiente em que pode haver divergência. Sempre no sentido de construir convergências, novos consensos. Vai ter que haver generosidade de parte a parte. Generosidade com a população. Esse ambiente só prejudica a população. Penso que a classe política está se dando conta disso. Ela prejudica a população e a classe política é a mais prejudicada, porque a imagem dela perante a população acaba sendo completamente distorcida. Temos que recuperar a nossa capacidade de interlocução. Sinceramente, eu penso que esse momento já está acontecendo.

Em um governo Haddad, como fica a Operação Lava-Jato?

Terá fortalecimento. Por exemplo, quero aumentar a pena dos corruptores. Penso que a pena dos corruptores é muito leve no Brasil. O desconto de pena por delação também é muito alto. Nós devemos ser mais rígidos com o empresariado corruptor. Penso que o empresariado corruptor levou muita vantagem na Lava-Jato. Quero acabar com essa vantagem.