As manifestações que cobram a saída de Michel Temer da presidência e a convocação de eleições diretas têm sido marcadas por um capítulo à parte em Florianópolis: o desencontro dos números. As estimativas da participação popular no protesto desta terça-feira, que teve concentração na avenida Beira-Mar Norte, parecem partir de calculadoras diferentes. Não há consenso sequer entre as organizações ligadas à manifestação.

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Enquanto a Polícia Militar apontou a presença de cerca de 5,6 mil pessoas no ato, lideranças da mobilização anunciaram estimativas de até 40 mil pessoas — mais do que os estádios da Ressacada e do Orlando Scarpelli conseguiriam reunir com suas as lotações máximas somadas.

Pelas redes sociais, a União Nacional dos Estudantes mencionou “mais de 20 mil pessoas”, por volta das 20h45, com base em divulgações da União Catarinense dos Estudantes.

Minutos mais tarde, a página oficial do PT de Santa Catarina no Facebook anunciou que “40 mil pessoas” pediam a saída de Temer em Florianópolis. Já na manhã desta quarta-feira, a página da Frente Brasil Popular comemorou “mais de 30 mil em Floripa” na mesma rede social.

A assessora de comunicação do PT, Daisy Schio, explica que a publicação do partido teve base na análise técnica de uma arquiteta, que estimou a presença de 36 mil pessoas. Por considerar o fluxo de manifestantes nos arredores, o número foi arredondado para 40 mil.

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—Ela explicou o critério de contagem, levando em conta a metragem do local. Nunca vi um ato desses em Florianópolis. Foi o maior desde que as últimas manifestações começaram — aponta.

O militante André Alves, ligado à coordenação da Frente Brasil Popular, justifica que a estimativa da organização (30 mil) seguiu os mesmos critérios adotados em outras mobilizações.

—Observamos o espaço preenchido pela manifestação e calculamos uma média de três pessoas por metro quadrado, que é a utilizada pelo IBGE. Consideramos o tamanho da via e a área que foi ocupada — descreve.

Cálculos de metragem e análise de fotografias serviram de base para a estimativa de 20 mil pessoas anunciada pela União Catarinense dos Estudantes, segundo apurou a reportagem.

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A Polícia Militar afirma que o cálculo de 5,6 mil pessoas é resultado de uma análise técnica do chamado P3 da corporação, grupo responsável por planejamentos de operações.

—A estimativa tem base diante da quantidade de pessoas em uma área pré-determinada. Leva-se em conta parâmetros e metros quadrados — indica o chefe da Comunicação Social da PM, tenente-coronel João Batista Réus.

Divulgação precisa esclarecer metodologia, defende especialista

Especialista em análises estatísticas e mestre em administração, o professor da Univali Leonardo Santos Pereira observa que os levantamentos conflitantes podem ser resultado de análises com critérios diferentes. Mas cada estimativa, alerta o professor, também está sujeita às intenções de quem a divulga.

Para que as conclusões sejam menos controversas, o especialista defende que as divulgações esclareçam as metodologias utilizadas para ter maior credibilidade.

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— Há várias teorias para cálculo. Usa-se, por exemplo, uma foto. Só uma foto é válida? Quantas precisam? Cada tipo de cálculo vai determinar inúmeras variáveis. Quem dá a informação deveria informar a metodologia porque ela descreve como se chegou a determinados dados. Com a metodologia, seria possível verificar se conseguimos chegar ao mesmo resultado — explica.