Quem entra na avenida Almirante Jaceguay pelo início da via – ou o que deveria ser seu ponto de partida – não tem a menor chance de continuar o trajeto de carro: no fim da primeira quadra, ela tem apenas passagem para pedestre e, duas quadras depois, desaparece diante de um grande terreno.
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Esta é uma constante no trajeto de um eixo viário idealizado para a zona Norte de Joinville há mais de 40 anos e executado em partes na década passada. O traçado, que deveria ser uma avenida de 7.836 metros e levar da rua Blumenau, no bairro Santo Antônio, à Estrada Anaburgo, no Vila Nova, passando pelo Costa e Silva e a BR-101, começou a ser desenhado, mas permanece parado e sem data para ser concluído.
Enquanto isso, a região se desenvolve à parte, o trânsito se complica e os moradores e comerciantes convivem com problemas na infraestrutura e a falta de pavimentação.
A criação da avenida Almirante Jaceguay apareceu pela primeira vez no planejamento da cidade no Plano Diretor de 1973, mas foi há dez anos que a comunidade conseguiu os primeiros avanços na abertura. Morador da região desde 1975, Antônio Manoel de Oliveira, 61 anos, lembra de conversas com o poder público em 2001.
– Começamos a trabalhar com reivindicações a respeito porque já sentíamos o problema, principalmente de acesso ao bairro Costa e Silva, porque ainda não havia a Marquês de Olinda – conta.
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Em 2008, a abertura da avenida foi anunciada pelo então prefeito Marco Tebaldi, que concluiu o projeto e pretendia iniciar a construção no mesmo ano. Na gestão seguinte, de Carlito Merss, o projeto foi um dos contemplados pelo pacote de investimentos para o programa de mobilidade de Joinville, e contava com recursos garantidos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o mesmo que possibilitou o binário do Vila Nova e a pavimentação das ruas Albano Schmidt, Tuiuti e Minas Gerais. Na época, o custo estimado era de R$ 18,3 milhões.
A execução da obra, no entanto, esbarrou no alto custo das desapropriações no traçado do eixo viário e foi excluída da lista de obras em 2014. Para que possa seguir em frente, falta comprar 19 terrenos e, depois, conquistar um novo financiamento.
– O que precisa é uma forma de adquirir estas áreas e conseguir recursos para a obra. Esta segunda parte é mais fácil, mas na compra de terras não é possível utilizar recursos gerais da União ou financiamento – afirma o diretor executivo da Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável de Joinville, Vladimir Constante.
Para 2017, a previsão orçamentária para desapropriações é de R$ 17,05 milhões, mas Constante destaca que esta é apenas uma projeção, não que este valor esteja disponível. Além disso, há outras desapropriações necessárias em obras mais avançadas, como a duplicação da avenida Santos Dumont. No momento, a Almirante Jaceguay não está na lista de prioridades, mas, segundo ele, não significa que não esteja mais cotada.
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– Ela é um eixo viário projetado da cidade, faz parte do projeto viário de 1973 e vai continuar em vigor. Não é um eixo que será alterado ou cancelado nessa revisão que estamos fazendo do plano viário – garante, sem estabelecer data para que a avenida volte à pauta.
Opiniões de moradores se dividem
No lugar onde deveria existir uma avenida, há trechos de ruas sem calçamento. Para os moradores e comerciantes, pó em dias de Sol e lama em dias de chuva.
– Há também lugares com valas abertas – comenta Antônio de Oliveira, referindo-se à região do Costa e Silva – Temos muitos restaurantes e até empresas em trechos sem asfaltamento, que não podem fazer nada a não ser esperar a obra acontecer.
No bairro Santo Antônio, o sentimento dos moradores é dividido entre o desejo e o medo de que a obra seja concluída. Se, por um lado, garantiria a valorização dos imóveis e a execução de obras pluviais e de asfaltamento, há a preocupação de que a avenida prejudique a qualidade de vida.
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– O bairro não tem estrutura para isso. Ninguém acredita mais na construção e muitos que se instalaram depois avançaram sobre o recuo. Ainda dará muita briga judicial – lamenta o ex-presidente da associação de moradores, Gustavo Pereira da Silva.
A auxiliar de serviços gerais Eva Lizete Alves mudou há quatro anos para um trecho no Santo Antônio. O que ela vê em frente à casa é um terreno baldio e apenas um sentido para sair.
– Se abrirem a avenida, vai acabar com o sossego, mas seria muito bom para que ter outro acesso às ruas principais – avalia Eva.
Estudante da UFSC, Victor Hugo Fendrich ficou admirado ao descobrir que mora a 500 metros de uma avenida. Ele passa por ela quase todos os dias, para ir ao restaurante universitário da UFSC, no início da Almirante Jaceguay.
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– O maior problema é à noite. Fica tão escuro que quase não dá para enxergar parte do trajeto – afirma.
Vital para a mobilidade
O principal benefício da avenida Almirante Jaceguay seria para a mobilidade: a ideia é que ela funcione como escoamento do trânsito que segue para a zona Norte para acessar a BR-101, a partir da rua Blumenau, sem misturar-se ao fluxo que utiliza as ruas Dona Francisca, Tenente Antônio João e a avenida Santos Dumont para ir às universidades e ao Distrito Industrial.
Segundo Antônio, atualmente a mobilidade no bairro Costa e Silva também ficou complicada, já que tudo depende das ruas Guilherme (que é paralela à Almirante Jaceguay em parte do trajeto) e Rui Barbosa.
– Não há uma rua principal de acesso ao Costa e Silva. Nos horários de pico, cria gargalos na rotatória da Otto Pfuetzenreuter com a Guilherme – afirma ele.
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Antônio tem uma loja na rua Inambú, com vista para o único pedaço da Almirante Jaceguay que parece uma avenida. Ela foi construída por um hipermercado instalado em 2013, que adquiriu o terreno, cedeu um trecho e custeou as obras.
– A avenida continua sendo importante como estruturação de toda a região e conexão com o Vila Nova e ganha mais importância hoje do que quando foi projetado, em 1973. Além de estruturar a região do Costa e Silva, ele conecta com o Vila Nova, que praticamente não existia – diz Vladimir Constante.