– Troquemos a luz dos holofotes pela do projetor! – disse o diretor Alan Oliveira, do curta-metragem Di Mello, O Imorrível, ao apresentar o filme no palco do Palácio dos Festivais, terça à noite.

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É uma frase que resume o movimento realizado por Gramado este ano. Com menos celebridades fazendo a alegria dos fãs no tapete vermelho e, ao mesmo tempo, uma boa programação e ingressos mais baratos para o cinema, o centro das atenções parece ter migrado de fora para dentro do Palácio dos Festivais.

A ausência de rostos conhecidos da televisão, neste ano em que o festival sente as consequências de uma de suas maiores crises, é gritante: até a metade desta 40ª edição, Eva Wilma foi a atriz mais festejada no tapete, mas nada que se aproximasse de uma aclamação como se vira com outras figuras, em outros tempos. Eva apareceu na sexta-feira passada, data de abertura de Gramado 2012, quando também estiveram na Serra a atriz Maria Flor e o diretor Fernando Meirelles. Esta semana, Juliana Didone e Leonardo Miggiorin marcaram presença. Nenhum outro nome de peso chegou para contentar turistas e caçadores de autógrafos.

– Os artistas populares são importantes, mas não o principal no momento – explica o produtor Ralfe Cardoso, ressaltando o maior objetivo dos organizadores este ano: estancar as dívidas passadas, realizando um festival no qual não se gaste mais do que se tem. – A partir desta quinta-feira vamos ter de quatro a cinco nomes que vão dar mais peso ao festival – complementa, sem citar quem mais deve aparecer além dos homenageados Arnaldo Jabor e Betty Faria.

Uma das especulações é a vinda do apresentador de TV Pedro Bial, codiretor de Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, programado para sexta-feira. As confirmações, no entanto, só se dão depois do embarque dos convidados. Luana Piovani, por exemplo, que está no longa Insônia e é uma das ausências mais lamentadas, deveria viajar mas, por um imprevisto, cancelou o embarque na última hora. No ano passado, mais de duas dezenas de rostos conhecidos da televisão deram as caras – entre eles Selton Mello, Fábio Assunção e Fernanda Montenegro.

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– Sempre há mais movimento a partir de quarta-feira, mais ou menos. Estamos na expectativa do aumento da movimentação também este ano – diz a empresária Angelita Foss Ecker, proprietária de dois restaurantes na Rua Coberta, em frente ao cinema e às margens do tapete vermelho.

Dentro do Palácio, cineastas, críticos e jurados também sentem a diferença.

– Gramado sem celebridades é algo com o que não estamos acostumados. Cresci vendo o festival pela televisão e compreendendo que o glamour faz parte da sua identidade – comenta Rubens Rewald, diretor do longa em competição Super Nada, estrelado pelo ator Marat Descartes (presente na Serra) e pelo cantor Jair Rodrigues (outra ausência sentida). – A opção pelos títulos autorais, o que traz o cinema para um primeiro plano, é bem visível nas escolhas dos curadores. A maioria dos competidores é formada por produções independentes, quase sempre primeiros ou segundos filmes de seus realizadores.

Não que a irregularidade dos longas-metragens vista em outros anos não esteja sendo sentida. A mudança está mesmo na perda do foco no tapete vermelho.

– Estou gostando do festival – afirma o ator uruguaio Cesar Troncoso.

Protagonista de O Banheiro do Papa (2007), ele vem a Gramado há pelo menos 25 anos e, em 2012, integra o júri da mostra de longas latino-americanos. Aprova a 40ª edição porque vê nela “mais cinema e menos jet set”:

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– Por ser jurado, não posso comentar os filmes em si, mas te digo que o perfil adotado este ano me agrada.

Ainda que a situação mude radicalmente a partir desta quinta-feira, e ainda que os últimos anos tenham registrado uma baixa progressiva de celebridades presentes, não há como negar que a 40ª edição de Gramado vem sendo diferente daquilo que se via ultimamente.