1. Do Amor, Stendhal (1822; L&PM, 328 págs.) – Além de romances como A Cartuxa de Parma e O Vermelho e o Negro, o francês publicou este escrutínio d’alma dos apaixonados. Afirmando que, independente de matizes, todos os amores “nascem, vivem e morrem” segundo as mesmas leis, ele tenta condensar esquematicamente essa experiência universal: além de teorias detalhadas, pense em listas com sete etapas do apaixonamento ou “nove particularidades do pudor”.
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A esmiuçada leitura psicológica chama a atenção, e Stendhal, além de aforístico, faz sorrir: diante da rapariga amada, “sentimo-nos levados, como um maníaco, a fazer ações estranhas; temos o sentimento de possuir duas almas: uma para fazer, a outra para censurar o que se fez”.
2. O Paradoxo Amoroso, Pascal Bruckner (2009; Difel, 256 págs.) – Não canso de mencionar este livro, um ensaio afiado, plural e contrário a várias ideias feitas dos relacionamentos contemporâneos. Livre de antigos obstáculos (morais, religiosos etc.), o amor hoje desabrocha à vontade e então “é morto por ele mesmo, morrendo de sua própria vitória. É exercendo que ele se destrói, sua apoteose é o seu declínio”. Livres para amar, ficamos mais expostos às ambiguidades do amor.
Então é hora, para Bruckner, de parar com a chorumela de que falta sentimento aos outros (uma cínica isenção de responsabilidade, aliás) e que o capitalismo criou os “amores líquidos” da teoria de Zygmunt Bauman associando os sentimentos atuais a hábitos de consumo.
3. Ensaios de Amor, Alain de Botton (1993; L&PM, 208 págs.) – Talvez o melhor livro para se dar de presente a um amigo penabundeado. Mesclando reflexões gerais às de um relacionamento seu, de Botton disseca várias etapas amorosas, nesse aspecto lembrando o livro de Stendhal.
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O livro alterna voos filosóficos um pouco mais altos e lugares comuns verbalizados com muita eficiência, como neste caso: “Viver diariamente com ela era como me aclimatar a um país estrangeiro, e portanto estar sujeito à ocasional xenofobia pelo afastamento das minhas próprias tradições e expectativas”.
4. Amor – Uma História, Simon May (2011; Zahar, 376 págs.) – Um ensaio cerebral sobre o amor como produto de uma longa herança cultural que foi se destilando entre nós. “‘Quase dois mil anos – e nenhum novo deus!’, Nietzsche bradou em 1888. Mas ele estava errado. O novo deus estava lá – na verdade, bem debaixo do seu nariz. O novo deus era amor. Amor humano”, escreve May, um filósofo inglês.
O amor, sustenta, foi crescentemente ocupando o vácuo pelo recuo da cristandade e se fixou como conceito. Assim, alguém do século 19 que nos visitasse hoje não entenderia nossas atitudes relação a mulheres, arte, moralidade, raça, paternidade, homossexualismo e assim por diante, mas rapidamente identificaria o que pensamos sobre o amor.
*** Kim Kardashian publicou um livro de 448 páginas apenas com selfies. Em uma reflexão imperdível a respeito, a escritora da revista Atlantic Megan Garber diz que essa tolice extrema pode ter um lado positivo.
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