Tapete vermelho devidamente estendido, sinalização para cegos bem no meio da passarela que também era larga o suficiente para a passagem das cadeiras de rodas. Modelos vestidos com figurinos especiais e despidos de qualquer timidez. Cada um que cruzava a passarela mostrava a cada passo, a cada girada de rodas, a cada toque de bengala que, sim, eles venceram e estavam ali para conquistar algo mais, um espaço no mercado da moda.

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Acompanhe as notícias da Grande Florianópolis

Os modelos “especiais” estavam participando do 3º Prêmio Brasil Sul de Moda Inclusiva, evento realizado na última quinta-feira, 10, no Hotel Majestic, em Florianópolis, e que tinha como objetivo motivar entre estudantes de moda e estilistas a criação e propostas de roupas destinadas aos deficientes. Aberturas diferenciadas, zíperes e tamanhos especiais foram algumas das características das peças, que tinha da lingerie ao vestido de noiva, tudo para facilitar a vida de quem tem dificuldade de mobilidade.

– O mercado da moda não está preparado para atender os deficientes. Principalmente mulheres que, apesar da deficiência, têm vaidade e autoestima.Esta foi a constatação de Viviane Baldissera, 31 anos, deficiente física que, apesar das limitações de seu corpo pequeno e com dificuldade de mobilidade, é uma mulher antenada e de bom gosto, mas que nunca pode entrar em uma loja para comprar uma roupa e nem acessórios. Tudo manda fazer sob medida.

Viviane mostrou todo seu estilo no evento

Claudio Rios, organizador do prêmio, explica que a intençao é dar visibilidade aos deficientes tendo a moda como veículo. Porém, o mercado da moda, infelizmente, ainda não têm interesse em investir neste público por não considerar rentável o suficiente.

Continua depois da publicidade

– Segundo o IBGE, o Brasil tem 24,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Será mesmo que esse número não é expressivo o suficiente? – questiona.

Vitória das noivas

O vencedor do desfile foi o estudante de moda de Criciúma, Emmanuel Goulart, 18 anos, que levou para a passarela vestidos de noivas para mulheres com nanismo. As peças eram bordadas em tecidos finos e com acabamento em elástico, para se adaptar facilmente a qualquer corpo tornando-se, assim, um vestido de possível comercialização em casas de aluguéis de trajes de festa.

Liana Hones com um dos modelos vencedores do concurso

Emmanuel já havia participado do projeto no ano passado, quando ficou em segundo lugar ao apresentar criações em jeans também voltadas para pessoas com nanismo.

Continua depois da publicidade

Moda como agente de inclusão

Não é só em relação aos deficientes que a moda pode ser trabalhada como fator agente de inclusão social. Na última sexta-feira, 11, o Instituto Hope House, em parceria com o shopping Iguatemi, promoveu o primeiro Hope Fashion, desfile de moda com peças criadas por adolescentes que vivem em abrigos ou estão em estado de abandono e vulnerabilidade social.

Todos as peças e detalhes foram criados por adolescentes

Durante o evento, Maria, Manu e Bruna – por orientação da instituição não vamos dar o sobrenome das meninas -, 14 anos, estavam numa euforia só. Elas contaram que trabalharam com as outras colegas durante dois meses para produzirem as peças que seriam exibidas. Usando como base roupas usadas, elas customizaram vestidos, camisetas, shorts e saias.

– Quando a proposta do evento surgiu, nós tivemos que aprender a trabalhar em grupo para tomar as decisões. Tivemos que definir o qual seria o tema do desfile, as cores, o nome do grupo e isso nos tornou mais unidas – explicou Manu.

Continua depois da publicidade

Segundo a presidente do Instituto, Themis Duranti, todo o trabalho foi realizado dentro dos “princípios familiares (elas tinham que trabalhar juntas como uma grande família, porque a ações de uns refletia diretamente nas dos outros) para dar a elas perspectiva de futuro.

– A proposta do evento e do trabalho dentro do instituto é dar oportunidades para construir esperança nestes jovens que, por não terem família ou viverem em estado de abandono, acreditam que não vão poder vencer na vida – disse Themis.

E deu certo, apesar de não terem a intenção de seguirem como estilistas, as três meninas acreditam que este é o primeiro passo para um novo rumo em suas vidas.

Continua depois da publicidade

Maria quer trabalhar no teatro, no palco ou produção de bastidores. Já Manu quer ser atleta.

– Ficamos muito felizes de ver nosso trabalho sendo reconhecido. Não imaginamos que o evento teria esta proporção. Vemos isso como uma oportunidade de expandir nossos sonhos – enfatizou Manu.

E entre os motivos de felicidade das adolescentes estava o ator Jonatas Faro, que era um dos modelos convidados do desfile. Além dele, participaram as blogueiras de moda Jade Seba, Norah Lapertosa, Débora Viegas, a atriz Letícia Almeida e o artista plástico Tom Veiga.