Receber um evento como o 29ª Convenção Global da Associação Internacional do Turismo Gay (IGLTA, na sigla em inglês), que começou nesta quinta-feira em Jurerê Internacional e segue até sábado, traz para Florianópolis, experiências de outras cidades bem evoluídas quanto o assunto é turismo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Se a capital Catarinense quer crescer no segmento, nada melhor do que se espelhar em cases de sucesso, como a cidade de Miami que há 20 anos é um dos principais destinos turísticos para homossexuais no mundo.
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O vice-presidente de turismo cultural do Convention & Visitors Bureau de Miami, George Neary, veio para o evento promover sua região e fazer contatos para negócios. Para Neary, o motivo que fez sua cidade estar entre as mais procuradas pelos turistas gays foi saber aproveitar o seu diferencial. Ele lembra que Miami é destino LGBT há mais de 20 anos e essa trajetória se construiu com base na própria cultura. Miami Beach desde 1930 tem mais de mil prédios em art déco, vanguarda que transpira um ar ornamental e colorido. O estilo transcendeu a arquitetura e se tornou a marca da cidade nos outros segmentos artístico e nos costumes mais exagerados. Por ano, a cidade de 400 mil habitantes recebe em média 12 milhões de visitantes, boa parte deles são homossexuais.
– Esse tipo de arquitetura é reconhecida pelo mercado gay, mostra a cultura. Para Florianópolis crescer no turismo gay, também precisa investir nos seus potenciais que chamam a atenção desse público – sugere Neary.
Alguns características de Florianópolis são bem semelhantes a de Miami, em menores proporções. A exemplo da cidade americana, que conta com baladas sofisticadas e duas praias gays, uma delas de nudismo, a Houlover Beach, a Capital catarinense também tem seus points favoritos do público LGBT. A região Leste da Ilha é bem procurada. No verão, a Praia Mole conta com dois bares com músicas bem dançantes e, mais ao norte, há a Galheta, um balneário mais escondido de naturismo, onde as pessoas tem a opção de ficar sem roupas. Além disso, tem as festas de Carnaval, com o tradicional desfile de drag queens do Pop Gay. Também há a Parada da Diversidade, que ocorreu no mês de setembro.
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Para o presidente da Santa Catarina Turismo (Santur), Valdir Rubens Walendowsky, afirma que Florianópolis está preparada para ampliar sua receptividade no turismo especializado para homossexuais.
– Temos restaurantes requintados, pubs e belas praias. É claro, precisamos melhorar em alguns quesitos, como o transporte aéreo. Precisamos de um aeroporto maior. Também temos a nosso favor, o povo hospitaleiro. É comum vermos famílias inteiras na Paradas da Diversidade – lembra Walendowsky.
Projeção internacional no mercado LGBT
Se conforme a Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Florianópolis já é considerado o terceiro destino LGTB do Brasil, pode atrair ainda mais visitantes do exterior com a realização do 29ª Convenção Global da Associação Internacional do Turismo Gay (IGLTA – na sigla em inglês). Tradicionalmente o evento projeta as cidades anfitriãs para o mundo nesse segmento de mercado, em expansão.
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A última a receber a convenção foi Fort Lauderdale, uma cidade de cerca de 200 mil habitantes ao sul da Flórida (EUA) e a apenas 37 quilômetros de Miami. O diretor de vendas do Convention & Visitors Bureau dessa regiã, Fernando Harb, também está em Florianópolis. Segundo ele, o evento ajudou a divulgar Fort Lauderdale, que apesar de contar com cerca de 30 hotéis direcionados ao público gay e o maior shopping de outlets – lojas de liquidação – da Flórida, com marcas de requinte como a Calvin Klein e Victoria’s Secret, não era tão conhecido pelo segmento quanto Nova York, São Francisco e Miami.
– Ano passado muitos dos operadores e agências de turismo internacional não conheciam Fort Lauderdale. Hoje conhecem e oferecem para seus clientes como destino gay friendly (amigável aos homossexuais). Com Florianópolis não será diferente – acredita Harb.
No evento participam mais de 400 lideranças do segmento, como operadoras, agências de viagens e jornalistas. O setor de turismo gay chega a movimentar cerca de R$ 275 bilhões por ano no mundo, conforme o IGLTA. Um turista homossexual gasta em média 30% mais em relação ao heterossexual. Mas como lembra o diretor-executivo da Organização Mundial do Turismo (OMT – ligado à Organizações das Nações Unidas – ONU), Javier Blanco, mais do que um negócio, abrir as portas ao turismo gay é estar aberto a tolerância. Para ele, o Brasil tem expressividade, por ser muito procurado por turistas homossexuais devido as mais de 30 paradas gays realizadas por ano.
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– Devemos exigir que todos os seres humanos tenham direito de fazer turismo com paz e liberdade. Vemos atos de violência em várias regiões do mundo, como a morte Daniel Samudio no mês passado no Chile. Mas, felizmente, o público GLBT está contanto com destinos inteligentes, que não são apenas aqueles com tecnologia avançada, mas que se esforçam a ser bem receptivos e independente de gênero -defende Blanco.
A OMT prepara a primeira edição de um relatório sobre o turismo LGBT mundial, já considerando informações que serão coletadas durante a convenção em Florianópolis.