Em pleno 7 de setembro o grito deles é também por independência — sob vários aspectos. E é bem mais do que isso. Querem chamar a atenção para questões sociais e políticas que afetam vidas que não ganham a devida atenção do poder público. Reforçadas por discurso forte contra injustiça social, novas ideias neste sentido foram debatidas na manhã desta quinta feira na 23ª edição do Grito dos Excluídos, na Caixa D’Água, no bairro Monte Serrat, em Florianópolis.
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No local, representantes da comunidade, sindicatos, pastorais e movimentos sociais se mobilizaram para organizar a partilha de um café coletivo, bate-papos e atrações musicais. Por todos os lados, faixas com manifestações de exigência por respeito aos direitos básicos de cada cidadão, além de críticas ao governo federal e a tentativas de criminalizar os movimentos.
— É uma tentativa de encontrar um caminho, por meio da confraternização, e reforçar a democracia, exigir que não percamos os direitos sociais conquistados. Temos de reavivar o ânimo pela justiça social — explica o padre Vilson Groh, uma das lideranças responsáveis por mais esta edição do evento, realizado pela articulação Arquidiocesana das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e igrejas de todo o Brasil.
No meio de tantas demandas levantadas, o Grito dos Excluídos teve o foco dos debates em um tema especial: “Vida em Primeiro Lugar! Por Direitos e Democracia, a Luta é Todo Dia”. Em especial, a vida da juventude, que tem sofrido com a violência, mas não apenas no Monte Serrat. A manhã serviu também como forma de mostrar solidariedade às famílias das vítimas de assassinatos e confrontos nos bairros. Uma das propostas, inclusive, foi a formação de um grupo com mães de jovens que tiveram a vida abreviada nas nossas ruas.
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— A gente vê, e não é só aqui, a violência contra a juventude. Qual é a solução para prevenir esse problema? Tem que dar um caminho para os jovens. Por exemplo, a polícia vem aqui e a gente se preocupa, pois eles deveriam nos proteger, mas nem sempre é assim. Conhecemos pessoas que perderam o filho e tentamos dar conforto. É doloroso. A gente vive isso com familiares e alunos — relata Maria Aparecida da Silva, 46 anos, professora de educação infantil que trabalha com crianças de até seis anos.
Em sua primeira participação, o professor de Artes Rodrigo Campos, 37 anos, reconhece a gravidade da situação e engrossa o coro:
— É preciso gritar por um basta à violência. É triste ver famílias esfaceladas.
Evento com história para contar
Com mais de duas décadas de envolvimento no Grito dos Excluídos, o padre Vilson Groh recorda as primeiras edições e pretende mobilizar novas gerações para se integrarem aos debates que virão:
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— Quando começou, era na Beira-Mar, há 23 anos. O Grito era contrário à marcha dos militares. Era por um grito de justiça.
Aos 76 anos, Jupira Costa garante que está em mais uma edição do Grito para “representar o povo”. Quando muitos participantes da atividade desta quinta-feira nem eram nascidos, ela estava em busca de justiça social.
— A luta é grande. Participo desde a década de 1980. Participei também de ocupações. Foram momentos emocionantes, fortes. E é aqui que a coisa toma corpo — comenta.
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Um grande desejo de Jupira é que mais pessoas pessoas se envolvam. Ela quer ver os jovens gritando forte, e que deem mais valor à vida, que, segundo ela, está muito banalizada e pouco valorizada atualmente.
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