A comunidade internacional se reuniu na última segunda-feira, dia 11, em uma cúpula em Paris sobre a biodiversidade, dedicada a intensificar e a lançar novos planos de conservação após um ano de quase total inação, e também voltada para a prevenção de pandemias, como a da Covid-19, que saltou do mundo animal para o humano.
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– 2021 deve ser o ano em que a humanidade se reconciliará com a natureza – disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, por videoconferência na abertura da quarta edição do One Planet Summit, que foi realizado principalmente on-line.
Patrocinada pela França, o evento contou com a participação da chanceler alemã Angela Merkel; do primeiro-ministro britânico Boris Johnson; do chefe de governo espanhol Pedro Sánchez; do presidente da Costa Rica Carlos Alvarado; assim como do príncipe Charles da Inglaterra, entre outros. Os líderes pediram a adoção de um ambicioso plano de ação na COP15 em Kunming, na China, sobre a biodiversidade, que ocorrerá no segundo semestre do ano, após o cancelamento em 2020 devido à pandemia.
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Junto com as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade é um dos maiores desafios que a Humanidade enfrentará nos próximos anos, e os dois fenômenos estão relacionados, segundo os cientistas. Entre 1970 e 2016, o mundo perdeu mais de dois terços dos vertebrados, com um colapso brutal em algumas regiões, como os trópicos da América Central e do Sul (-94%), segundo relatório publicado em setembro pelo Fundo Global para a Natureza (WWF). Além disso, cerca de um milhão de espécies animais e vegetais de um total de oito milhões estimados na Terra estão em perigo de extinção, alertaram os especialistas em biodiversidade da ONU (IPBES) em 2019.
Apesar da necessidade de ação, a pandemia obrigou a suspensão de dois eventos internacionais considerados fundamentais no ano passado: o Congresso da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em Marselha, na França, e a COP15 de Kunming, cujo objetivo era elaborar um plano global para proteger e restaurar ecossistemas até 2050.
De olho nas duas reuniões adiadas para mais tarde neste ano, a cúpula da última semana teve como foco quatro temas: proteção dos ecossistemas terrestres e marinhos, promoção da agroecologia, mobilização de financiamento e a ligação entre desmatamento, espécies e saúde humana. E serviu para lançar oficialmente a Coalizão de Alta Ambição para a Natureza e os Povos (HAC), com a adesão de cerca de 50 países. O objetivo é proteger 30% dos espaços naturais da Terra até 2030.
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Os membros também incluem Alemanha, Chile, Colômbia, Espanha, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá e Peru, bem como a Comissão Europeia. O grupo busca se inspirar no modelo da Coalizão da Grande Ambição, que trabalhou nos bastidores para viabilizar o marco do Acordo de Paris de 2015 contra o aquecimento.
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A Coalizão trabalhará para desempenhar um papel nas negociações internacionais com vistas a chegar a um acordo global sobre a biodiversidade, disse à reportagem a ministra costarriquenha de Meio Ambiente e Energia, Andrea Meza. De acordo com a ministra, apesar de a pandemia atrasar as negociações, também demonstrou “que, quando os governos tomam decisões, podem haver efeitos importantes voltados para o bem comum e para as pessoas (…) com resultados imediatos”.
A natureza produz um valor econômico anual de cerca de 125 trilhões de dólares, segundo o grupo.
Covid-19, o resultado do “desequilíbrio”
A França apresentou um novo grupo, a Coalizão por um Mar Mediterrâneo Exemplar em 2030, que atualmente conta com seis países, entre eles a Espanha, para promover a pesca sustentável e o transporte marítimo, lutar contra a poluição marinha e preservar a biodiversidade naquela região. Outra coalizão terá a missão de dedicar 30% do financiamento público climático dos membros a soluções baseadas na natureza, às quais poderá se juntar uma aliança de investidores privados.
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O evento também lançou a “Prezode”, uma iniciativa internacional de pesquisa dedicada à prevenção de zoonoses, doenças que são transmitidas de animais para humanos. Este foi o caso da Covid-19.
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– A Covid-19 foi o produto de um desequilíbrio na relação do homem com a natureza – disse Boris Johnson, defendendo o fim das zoonoses.
Para muitos especialistas, a destruição de ecossistemas, principalmente devido à agricultura e à urbanização, multiplica os contatos entre as espécies, facilitando a transmissão de doenças e de infecções. A cúpula teve também um fórum dedicado à “Grande Muralha Verde” da União Africana para o combate à desertificação na região do Saara. O objetivo será iniciar compromissos financeiros de um total de US$ 10 bilhões.
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A ONG francesa Avaaz se manifestou após o encontro:
– Os líderes mundiais estão começando a perceber que a perda de biodiversidade é uma ameaça à nossa segurança alimentar, nos torna vulneráveis a pandemias e prejudicará o progresso para estabilizar o clima – reagiu a ONG francesa Avaaz, ainda assim estimando que o objetivo não vai “longe o suficiente”.