Tão memorável quanto a música do caminhão de gás, que ainda sobrevive, o ruído ritmado da conexão discada à internet foi praticamente extinto. Todo mundo que viveu a experiência lembra também da espera até conseguir dar os primeiros passos no universo online. Em 2015, completam-se 20 anos da aprovação do acesso comercial ao www (world wide web) no Brasil, e muita coisa mudou desde então.
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Em 1995, pouco antes de jogar futebol com o amigo Marcos Livramento, que tinha acabado de sair de uma palestra sobre uma novidade, a internet, Guilherme Fonseca ouviu a proposta: “Vamos abrir um negócio com isso?”
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Na semana seguinte, estavam com uma sala alugada em Florianópolis. A InterAcess foi fundada em agosto daquele ano. O primeiro cliente só veio em outubro, após conseguirem deixar tudo pronto: era o senhor José Nunes.
A empresa foi uma das primeiras a oferecer o serviço de provedor de internet em Florianópolis, com poucos recursos e gastando muita sola de sapato. A maior parte dos primeiros clientes eram professores ou alunos da UFSC, que já tinham acesso à internet na universidade, pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).
Essa rede abriu a primeira conexão do país em 1991. Depois foi expandida para as universidades federais. Usavam no trabalho a inovação da época e queriam ter acesso à novidade também em casa. Os dois empreendedores anunciavam no jornal em busca de novos clientes – o que é até irônico vendo como a internet transformou todos os negócios, entre eles o jornalismo. O número de clientes foi aumentando à medida em que a empresa levava conexões para mais condomínios.
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Foto: Reprodução
Reinvenções que seguem tendências
Acelere 20 anos a história. Hoje, a antiga InterAcess teve que mudar seu nome atual, Linha Livre, para FLIN. A troca de marca ainda está em andamento. Sinal dos tempos. Não fazia mais sentido uma referência ao fato de a linha do telefone estar livre para receber ligações, o que ocorre há um bom tempo, desde a chegada da banda larga nos anos 2000.
A FLIN segue como provedora de internet. Vende conexões de 5 MB a 200 MB, quando as primeiras conexões eram de 4 kbps (kilobits por segundo). A menor velocidade atual é 125.000% maior do que a velocidade fornecida em 1995. Tem também mais de 300 quilômetros de fibra ótica na Grande Florianópolis para conectar seus cerca de 7 mil clientes de serviços voltados ao mundo online.

Foto: Reprodução
– Não é nem que a internet influenciou o negócio, ela transformou completamente – conta Guilherme Brasil, diretor de tecnologia da Dígitro, uma das maiores empresas do setor de tecnologia de Florianópolis.
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A empresa é anterior à internet. Foi fundada em setembro de 1977 e teve como um dos primeiros trabalhos o projeto de um placar eletrônico para o estádio Orlando Scarpelli. Mas sua principal atuação era como fornecedora de serviços para a antiga Telesc. Com a privatização do setor, teve que se reinventar.
Hoje, a Dígitro tem como um dos carros-chefe fornecer serviços de telefonia por IP, ligações pela internet praticamente sem custo. Junto com o celular, a companhia de TI está ajudando a matar o antigo ganha-pão, o telefone fixo, permitindo ligações gratuitas a empresas que tenham escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Fortaleza, como é o caso da própria Dígitro.
Capital pioneira e mais conectada
Pode parecer muito distante, mas não faz tanto tempo que os executivos tinham que se comunicar com as empresas por fax, caríssimas ligações telefônicas internacionais ou até por carta se estivessem em viagem de negócios. O mesmo para quem estava fazendo turismo fora do país, na época em que o cartão-postal era enviado pelos correios.
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– A primeira quebra de paradigma foi o fato de conseguir fazer comunicação por e-mail. Em 1998, eu estava na Alemanha e, pela primeira vez, conseguia receber informações da empresa e responder com orientações – conta Alexandre d?Ávila, presidente da empresa de hardware Cebra e da Câmara de Tecnologia e Inovação da Fiesc.
Assim como milhares de outros catarinenses no início da internet no Estado, d?Ávila já teve um e-mail @matrix.com.br. A Matrix também foi um dos primeiros provedores de internet de Florianópolis, assim como a FLIN. Mas era uma empresa de software já existente que recebeu investimentos para entrar de forma agressiva na concorrência para fornecer a primeira conexão de internet dos catarinenses.
No auge do primeiro momento da empresa, ela chegou a ser o terceiro maior provedor de internet do país, atrás do UOL e do Terra. A maior parte dos clientes era de Santa Catarina, mas a Matrix teve expressão nacional na área. Chegou a ter 300 mil clientes residenciais.
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– O primeiro pedido de conexão por fibra ótica no país foi feito pela Matrix. Mas atenderam antes outro um pedido feito em Curitiba. Acabamos sendo um dos primeiros do Brasil – conta Eber Lacerda Junior, vice-presidente de operações da empresa.
Hoje ainda são cerca de 5 mil clientes que mantêm aquela conta de e-mail @matrix, no setor mantido como uma espécie de “memória” da companhia.
Em 2000, entra no mercado o IG, apostando que o provedor de internet não deveria ser pago, e sim grátis. A Matrix viu uma necessidade de mudar de área e reformulou quase toda a atuação. Focou no mercado corporativo e apostou em uma ideia que só ia se tornar corrente uma década depois: o data center.
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A empresa construiu em São Paulo um prédio de 7 mil metros quadrados, divididos em várias salas-cofre refrigeradas e milhares de torres de servidores. A aposta se tornou a principal área de atuação da Matrix.

Foto: Diorgenes Pandini
Catarinenses se anteciparam
Florianópolis foi o ponto de partida da atuação da companhia, que hoje tem apenas um escritório na cidade. Não atua mais como provedor de internet. Oferece soluções corporativas de tecnologia de informação, armazenando servidores de empresas e criando nuvens para hospedagem de dados. É responsável, por exemplo, por manter no ar o site da Avianca.
Houve um pioneirismo catarinense nos primeiros anos da internet. Tanto a FLIN quanto a Matrix entraram no mercado em 1995. Para comparação, a empresa que foi o maior provedor do país, a Universo Online (UOL), foi criada em abril de 1996. Quase um ano depois.
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Ambos apostam que esse pioneirismo pode ter ajudado a colocar a cidade como uma das referências da área de tecnologia no país. Um fato apoia a teoria. Em pesquisa feita em 2012, em parceira entre FGV e Telefonica, Florianópolis apareceu como a Capital mais conectada à internet, com 77% dos moradores com acesso ao mundo virtual.

Foto: Diorgenes Pandini