Com o tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão resumido a inserções diárias sem horário fixo, os 15,6 mil candidatos que tentam se eleger ou se reeleger vereador neste pleito foram ofuscados pelas novas regras eleitorais sancionadas em dezembro do ano passado. Somado à pouca visibilidade nos meios de comunicação tradicionais, os postulantes às cerca de 2,8 mil vagas nos legislativos municipais de Santa Catarina também driblam a dificuldade em conseguir financiar suas campanhas – que este ano foram reduzidas de 90 para 45 dias. Agora, faltando uma semana para a votação, apesar dos percalços para os candidatos, o que se reforça é que o eleitor figura no resultado dessa equação.
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Nesse sentido, o advogado e presidente da comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC), Pierre Vanderlinde, defende que o novo modelo de campanha não prejudicou o colegiado, já que, historicamente, o horário eleitoral não é detentor de grande audiência – dados da pesquisa do Instituto Mapa, contratada pelo Grupo RBS/SC e publicada em junho, apontam que apenas 19,6% dos entrevistados se informam sobre eleições pelo horário político na TV.
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– As inserções (durante a programação normal) têm um diferencial porque acabam pegando o eleitor de surpresa. A pessoa está ouvindo a programação normal e é surpreendida com a propaganda do candidato e os vereadores estão inclusos ali – explica Vanderlinde.
Para ele, o divisor de águas no processo eleitoral de 2016 é fazer com que o eleitor saiba qual a real função do vereador e, por consequência, identifique até onde ele de fato pode ir. A teoria do advogado também é vista na prática conforme o relato de Mauro Mariani, presidente estadual do PMDB, sigla que detém o maior percentual (18,19%) das candidaturas para vereador em SC.
Segundo o peemedebista, a alteração na legislação trouxe mais visibilidade aos que postulam uma vaga no Legislativo municipal.
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– Claro que a mudança ainda tem algumas imperfeições, mas ela tornou a disputa, principalmente dos vereadores, muito mais equilibrada e igualitária. O diferencial agora são as redes sociais, um local democrático onde o poder econômico nada influencia, diferente de quando o candidato com mais dinheiro enchia as ruas com placas – pondera.
Sendo assim, especialistas concordam que nesse cenário, além do campo digital, a saída para os candidatos conquistarem mais votos foi ir para as ruas e promover a campanha com base na conversa. Para Vanderlinde, que parte do princípio de que os candidatos a vereador deveriam ser naturalmente lideranças locais, a prática deveria ser comum. A opinião é compartilhada pela mestre em Gestão Pública e doutoranda em Direito Queila Jaqueline Nunes Martins.
– Penso que os vereadores deveriam fazer a campanha simplesmente conquistando o voto com as suas propostas. Então, não é preciso tanto dinheiro. O vereador representa as pessoas, os grupos sociais de uma comunidade. O nosso voto tem que ser naquele que nos representa, ao grupo que pertencemos – destaca Queila.
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Especialista diz que é preciso analisar histórico do político
Na linha de frente das campanhas, Everton Luiz de Matos Ribeiro, coordenador de um dos vereadores do PSC, partido que, conforme o TSE, lançou 343 candidatos para o Legislativo este ano, concorda que as novas regras valorizaram o trabalho do político que de fato é vereador.
– Antes acontecia de surgir um candidato pouco conhecido ou com pouca militância e, pelo fato de conseguir apelo de mídia, se consolidava. O que sentimos é que a campanha ficou até mais simples. Não nos preocupamos em onde e como fixar placas, por exemplo, já que parte dessa prática também foi proibida – detalha.
Aliado ao fato do eleitor se sentir representado na figura do vereador, o consultor em sociologia política Sergio Saturnino Januário ainda orienta que o cidadão observe alguns pontos no histórico do candidato afim de certificar a escolha e garantir o voto consciente. Entre os pontos de atenção, checar se o político em questão tem envolvimentos com problemas judiciais, como desvio de verba, por exemplo, é um começo.
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– Se puder, vale analisar também o posicionamento do candidato nos últimos quatro anos, o que ele fez pela cidade. Lembrar sempre que o vereador precisa representar o interesse do povo – conclui Januário.