O Diário Catarinense completa 28 anos nesta segunda-feira e para marcar a data resolvi responder a algumas perguntas íntimas que leitores e fontes nos fazem por e-mail, nas visitas à Redação ou no contato com algum colaborador do jornal ou da empresa. Abaixo não vai uma receita de bolo, mas minha visão pessoal sobre alguns temas, formulados e respondidos com a ajuda de colegas.
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É verdade que os jornalistas estão sempre correndo, atrasados e estressados?
Em geral, é verdade. O velho e surrado jargão de que “a notícia não para” é uma verdade e isso faz com que a atividade de uma redação tenha uma peculiaridade: não existe amanhã para o jornalismo. Um fato ocorrido às 8h ou às 20h terá de sair no jornal do dia seguinte, independentemente do tempo para apuração. E por isso a corrida. E na internet a corrida é maior: um fato ocorrido agora deve ir ao ar poucos minutos depois. Por isso é verdade que correria e estresse estão presentes na rotina de repórteres e editores. ?
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Qual a parte mais saborosa de ser jornalista?
Todas as atividades ligadas especificamente ao jornalismo – apurar, entrevistar, reportar e editar – são fascinantes. É uma atividade que elimina do dicionário pessoal o vocábulo rotina. Permite conhecer lugares e povos diferentes. O sabor de construir e lapidar um texto, por exemplo, não tem preço. Denunciar uma irregularidade gera a sensação de missão cumprida. Mas o melhor de tudo é conhecer pessoas e suas histórias e poder compartilhar estas histórias, cumprindo diariamente a missão do Grupo RBS: “Facilitar a comunicação das pessoas com o seu mundo”. ?
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É melhor ser repórter ou editor?
Há jornalista que nasce para ser repórter. Outros, para editor. Amo os dois ofícios e os exerço o tempo todo, mas como conceito pessoal acredito que o melhor de todos é o repórter com cabeça de editor e o editor com alma de repórter. ?
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Como lidar com cenas chocantes que chegam todos os dias à Redação?
Não há fórmula. Com quase 30 anos de jornalismo, ainda não me acostumei com algumas cenas e fatos. Não gosto de ver fotos e vídeos de acidentes ou cenas muito tristes. Domingo passado, por exemplo, fiquei muito chocado ao ver o vídeo da briga em Canasvieiras. Além do impacto pela morte, fiquei impactado ao ver uma menina de seis anos assistir, desesperada, a tudo. Ainda não aprendi a não sofrer.
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Os jornalistas têm time do coração ou partido?
Quase todos têm um time e uma pequena parte costuma votar sempre no mesmo partido, mas só exerce jornalismo isento quem consegue separar as preferências pessoais da atividade profissional. Ser isento não é ser imparcial. Não acredito em jornalismo imparcial, já que sempre defendemos uma causa. Mas não acredito em jornalismo sem isenção, que é a tentativa de chegar mais perto da verdade sem olhar o lado ou a causa. ?
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Os jornalistas do DC podem publicar o que bem entender nas redes sociais?
Podem. Mas como bem diz o nosso Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística, “qualquer manifestação pelas redes sociais é uma comunicação pública na qual prevalece o regramento ético esperado na atuação profissional regular”. ?
7
Como alertar a Redação sobre um erro publicado no jornal impresso ou na internet?
Na contracapa do jornal impresso sai o telefone geral da Redação: (48) 3216-3000. No alto de cada página há o ramal de cada editoria e o endereço eletrônico dos editores. Ao pé de cada reportagem publica-se o e-mail do autor. Se encontrar erro no site, o leitor pode enviar e-mails para: diariodoleitor@diario.com.br Ou uma mensagem pelo Facebook do DC: facebook.com/diariocatarinense. Porém, o DC vai mudar para facilitar esses alertas. Em breve vamos informar como você pode corrigir o DC. ?
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As crianças do Conselho do Leitor Mirim do DC perguntam por que há tanta matéria de tragédia. Jornalista não gosta de notícia boa?
Jornalistas não devem ter preferência pelo enfoque dos fatos. Mas o curso normal da vida nem sempre é notícia boa, infelizmente. Uma viagem acidentada é notícia; uma sem sobressaltos, em geral não. Um político honesto deve ser a regra; mas um corrupto deve ser noticiado. Os exemplos explicam em parte, mas o ideal é o jornal que sabe pinçar o lado mais positivo da vida. E equilibrar. As crianças sempre têm razão.
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9
Como os jornalistas fazem para escrever quando não estão inspirados?
A palavra inspiração tem para o jornalismo o mesmo peso que para outras profissões, embora muita gente acredite que o ato de escrever tenha a ver com inspiração e estado de espírito. Não é bem assim. Inspiração ajuda sempre, mas escrever é antes de mais nada uma técnica – e não uma arte. A pressão também ajuda. Quando perguntaram a Luis Fernando Verissimo de onde vem a inspiração, ele respondeu: “Minha inspiração é o pânico de ter que entregar a crônica no horário”.
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Por que o jornal está repleto de anúncios?
Um jornal como o DC é sustentado por um tripé: leitores, publicidade e classificados. A receita mais robusta vem da publicidade, pois sem ela o preço do exemplar ou da assinatura teria de ser maior. Sustentar jornalismo de qualidade e independente, com os altos custos de papel e de logística, seria inviável sem a publicidade. A experiência nessa indústria mostra que quando a publicidade diminui caem os investimentos na produção de conteúdo, e nesse caso o maior prejudicado é o leitor. O aumento da publicidade insere-se portanto num contexto positivo, onde o DC cumpre seu papel de aproximar vendedores (anunciantes) com seus clientes (leitores). ?
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Qual a relação entre anunciantes e o conteúdo editorial?
Nenhuma. Os anunciantes não podem ser privilegiados em uma reportagem nem prejudicados só porque anunciam no jornal. O que diz o Guia de Ética: “Os veículos da RBS não condicionam a realização de coberturas ou os enfoques jornalísticos à venda de publicidade. A decisão de fazer ou não uma cobertura, a dimensão e o ângulo são de natureza estritamente editorial”. ?
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Com a internet, o trabalho do jornalista ficou mais exposto. Como eles recebem as críticas públicas que chegam pelas redes sociais?
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A internet só melhorou o jornalismo, especialmente na participação do público. O leitor deixou de ser passivo para ajudar a fazer jornalismo. Ao mesmo tempo em que participa se sente bem mais à vontade para criticar. Isso é saudável e só melhora um veículo. Isso não ocorre apenas com o jornalismo, mas é verdade que o trabalho do jornalista é mais exposto. Por isso é preciso sempre saber entender a crítica, usá-la para errar menos – e ter sangue frio para não cair em armadilhas de quem se esconde no anonimato da internet. ?
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É possível pagar para uma matéria sair?
Em hipótese alguma. Se o fato tiver interesse jornalístico e, portanto, interesse público, é publicado como conteúdo editorial. ?
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Jornalista tem entrada gratuita nos eventos?
O jornalista é um cidadão comum e como tal deve se comportar. Não está acima de ninguém. Eventuais isenções de pagamentos só são justificáveis quando o profissional está a serviço, envolvido na cobertura jornalística e credenciado pela organização de eventos para acesso a entrevistados e produção de imagens, por exemplo. ?
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Como o jornalista se sente ao perceber que o trabalho resultou em benefícios à sociedade?
O sentimento é de dever cumprido. Nosso trabalho só se justifica se fizer alguma diferença na vida das pessoas. Pode ser uma providência oficial para melhorar algum serviço público, uma orientação de saúde para melhorar a qualidade de vida ou campanhas para garantir obras importantes para a comunidade.
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