Quinze anos depois do grave acidente que matou dois jovens e deixou um ferido no Centro de Florianópolis, o empresário do ramo de casas noturnas Aroldo Cruz Lima, acusado pelo crime, irá a julgamento no Fórum da Capital. O júri popular está marcado para as 9h desta terça-feira. Se condenado, o réu pode pegar de seis a 20 anos de prisão para cada uma das vítimas mortas e de um a cinco anos pelo rapaz ferido.

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Segundo a denúncia do Ministério Público (MP), em 15 de setembro de 2002, o empresário dirigia uma BMW na Avenida Beira-Mar Norte acima de 110 km/h e acertou a traseira do Audi conduzido por Rafael de Lucca Geraldo, 23 anos. O impacto, afirma o MP, fez com que o veículo conduzido pela vítima se chocasse em um poste, causando a morte de Rafael e do passageiro Vitor Hugo Marins Filho, 24 anos.

O carro em que estavam Rafael e Vitor Hugo acabou atingido outro veículo, um Golf. Nele estava Marcos Conceição Dutra, que teve lesões graves. O MP sustenta que o empresário estava embriagado e em alta velocidade no momento do acidente, por isso reforça a tese de homicídio doloso, quando há a intenção de matar. A defesa de Aroldo tentou mudar a acusação para homicídio culposo, o que não levaria o caso a júri popular, mas a Justiça negou os recursos.

O promotor responsável pela acusação, Andrey Cunha Amorim, diz que buscará a condenação do empresário com base nas perícias e na prova testemunhal. A embriaguez ao volante — mesmo que sem a comprovação do teste do bafômetro, mas com relato de testemunhas — e a alta velocidade configuram o dolo no acidente, segundo Amorim.

— Por conta do tempo, as testemunhas vão ter dificuldade de lembrar algumas coisas, mas elas já prestaram depoimento no processo, então vamos resgatar. A Justiça tarda, mas não falha — destacou o promotor.

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O advogado do empresário, Cláudio Gastão da Rosa Filho, afirmou que não quer se manifestar sobre a linha de defesa que será usada no júri:

— Encomendamos perícias e laudos e temos elementos que vão demonstrar que essa acusação não encontra amparo na realidade do que ocorreu naquele dia trágico — explica o defensor.

O júri demorou para ocorrer por conta dos diversos recursos dos advogados do empresário. A cada decisão da Justiça, a defesa recorria a tribunais superiores.

Famílias esperam por julgamento há 15 anos

Para as famílias dos dois jovens mortos, mesmo 15 anos depois, o júri popular será importante para amenizar a dor da perda. Vitor Hugo e Rafael eram estudantes na época das mortes. Vitor estudava Ciências Sociais na Univali, enquanto Rafael terminaria no final do ano a pós-graduação em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ambos trabalhavam na área de estudo. Vitor atuava na Assembleia Legislativa de SC (Alesc) e Rafael ajudava os pais na empresa da família.

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Na noite do acidente, eles estavam juntos no Café Cancun, casa noturna de propriedade de Aroldo. Depois os dois saíram e pretendiam ir até o McDonalds da Beira-Mar Norte, na região onde ocorreu o acidente.

— A gente sabe que ele jamais vai cumprir a pena em regime fechado. Ele não será preso. Mas esperamos que o juiz determine alguma punição. Somente o fato de levar o caso a júri já é uma vitória. Nada vai mudar o que aconteceu — afirma a irmã de Vitor, Karla Beatriz Marins.

A demora do caso chegar ao julgamento fez com que dona Noêmia de Lucca Geraldo, mãe de Rafael, entregasse a situação “nas mãos de Deus”:

— Ele (Aroldo) tentou de todas as maneiras evitar de ir a júri. Foi até para tribunal federal. Queremos que ele seja condenado, esperamos que sim.

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Noêmia lamenta que logo após o acidente, o empresário não procurou a família para dar apoio e teria dito “inverdades” sobre o acidente. Segundo ela, isso “machucou bastante” a família, que quer a condenação do acusado.