Conheço várias pessoas que moram sozinhas, algumas por opção e outras por contingências da vida. Marina é uma delas. Veio do interior para cursar a faculdade, depois conseguiu emprego e foi ficando. Nunca pensou em voltar para a casa dos pais, e nem em repartir apartamento com mais alguém. Tem namorado, mas nos seus planos não está casar e morar junto. Diz amar a sua liberdade, sentimento que teme perder se viverem sob o mesmo teto. Só moram juntos quando viajam, nos finais de semana e nas férias. Como ele também gosta de viver só, até agora este “arranjo familiar” vem dando certo.

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Marilia tem uma história diferente. Foi casada durante 20 anos e ficou viúva cedo. Os dois filhos casaram e saíram de casa, e ela recusou-se a ir morar com um deles. “Não ia dar certo. Gosto de ter o meu cantinho e as minhas coisas”, diz ela. Aos 70 anos, leva uma vida ativa, recebe as amigas para jantares e adora um carteado. Não esconde, porém, que às vezes se sente um pouco solitária. E tem também o João, recém-separado, que ainda está se acostumando com a ideia de morar só. O casamento durou sete anos, e não tiveram filhos. Mudou-se há pouco para um apartamento bem pequeno no centro da cidade. Antes de casar, morava com os pais. Então, não ter com quem compartilhar a casa (e a vida) ainda é uma situação muito nova para ele. “Me assusta um pouco”, comenta.

Marina, Marília e João exemplificam bem as estatísticas do IBGE. Na última década, o número de pessoas morando sozinhas no Brasil quase dobrou, saltando de 5,5 milhões para 9,9 milhões. Fazem parte deste contingente tanto os jovens que saem da casa dos pais em busca de autonomia quanto pessoas que se separaram, senhoras e senhores que enviuvaram, gente que estuda ou trabalha longe da cidade de origem e até mesmo casais que mantêm uma relação estável e optam por viver cada um no seu canto.

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Segunda a pesquisa “Hábitos e Consumo das Pessoas Que Moram Sozinhas”, conduzida pelo SPC Brasil, entre as vantagens de morar só as mais apontadas por quem vive esta condição foram a privacidade, o fato de não ter que dar satisfações da própria vida, realizar atividades diárias sem interferência de ninguém e poder receber visitas sempre que quiser (22,8%). Por outro lado, o medo de passar mal e não ter ninguém para socorrer, não ter companhia para conversar, a insegurança, o medo de violência e assaltos e não com quem dividir as despesas da casa foram apontadas como as maiores desvantagens de morar só.