Semana passada parei no semáforo de uma cidade da Grande Florianópolis. Em seguida veio uma menina de uns 12 anos me vender uma garrafa d’água. Como não havia carro atrás, fiquei conversando um pouquinho. Ela me contou que a mãe é faxineira mas que nesta época faz “bico” vendendo água.
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_ Ela está ali ó _ me disse, apontando para o outro lado do cruzamento.
A mãe não gosta de deixá-la sozinha em casa. O pai abandonou a família e moram só as duas, numa vila próxima. Nas férias escolares a mãe leva a menina junto aonde vai. Está longe de ser a solução ideal, mas no momento a mãe acredita que é o melhor que pode fazer pela filha: mantê-la sob sua proteção. Enquanto uma cuida da caixa térmica com as garrafas de água gelada, a outra oferece o produto aos motoristas que param no sinal.
São muitas as crianças e adolescentes que trabalham, infelizmente. Quase todos por necessidade econômica da família. Em Santa Catarina, desde o final de dezembro está em andamento a campanha de erradicação do trabalho infantil na temporada de verão 2018/2019, sob a coordenação do Fórum Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção do Adolescente no Trabalho em Santa Catarina (FETI) e do Ministério Público do Trabalho (MPT-SC). A campanha “Rejeite produtos vendidos por crianças e adolescentes e denuncie a exploração sexual e o trabalho infantil” orienta os turistas a não consumir produtos ou serviços oferecidos por crianças e adolescentes nas praias, festas, pontos turísticos, estacionamentos, lavação de automóveis, bares, restaurantes e outros locais públicos. Também pede que qualquer flagrante seja denunciado pelo disque 100.
Eu não denunciei aquela mãe. Não teria coragem, até porque ela me contou que não tem escola aberta nas férias escolares, e que a única parente que mora perto sofreu um AVC e tem muitas sequelas. Não pode cuidar de uma criança. O caso dessa menina não é único, muito pelo contrário. Está errado trabalhar precocemente? Com certeza. Ela deveria estar brincando e não vendendo água neste calor escaldante? Claro que sim. Mas que outra alternativa é oferecida para esta mãe?
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Acho a campanha contra o trabalho infantil muito válida e importante, especialmente quando as crianças são exploradas pelos adultos, sejam familiares ou não. Só não sei como equacionar este grave problema social, de quem precisa trabalhar para sustentar a família e não quer deixar os filhos em casa, à mercê da própria sorte. Isso também é uma crueldade.