Surdez precoce: fone de ouvido é o maior do vilões

Minha afilhada de sete anos estava sem aulas, na semana passada, e veio passar uma tarde aqui na minha casa. Fizemos um trato: quando eu terminasse de escrever a coluna para o jornal, iríamos brincar de alguma coisa. Mas, enquanto isso, ela ficaria vendo desenhos no Ipad, do meu lado, usando o fone de ouvidos. Até porque é bem difícil ter um pouco e concentração com a Mônica, o Cebolinha e o Cascão falando sem parar nos meus ouvidos. Arrumei o aparelho, entreguei para ela e continuei escrevendo. De repente comecei a ouvir choros, gritos e risadas. Ela ouvia tão alto o desenho, mesmo de fones, que eu conseguia escutar tudo também. Pedi para ela abaixar um pouco o volume, e ela ficou braba: “Mas Dinda, daí eu não escuto nada”.

Claro que ela estava exagerando um pouco, mas o fato é que estas novas gerações vão acabar tendo problemas de audição mesmo, porque nunca aprenderam a ouvir música ou assistir TV em um volume normal. Tudo hoje é muito barulhento. É comum ver jovens usando fones de ouvido em uma altura que atrapalha até quem está por perto. Aliás, os auriculares viraram peça do vestuário de muita gente, que não sai mais de casa sem eles pra nada, e esse hábito _ o uso exagerado e incorreto dos fones _ vem preocupando os médicos.

Dados da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO) apontam que 35% dos casos de surdez são consequências da exposição a ruídos diários – especialmente dos fones de ouvido em volume maior do que o recomendado, além de shows, boates, bares e festas muito barulhentas.

O médico otorrinolaringologista Fayez Bahmad Jr aponta que esse tipo de problema, conhecido como perda auditiva induzida por ruído, é uma das doenças mais frequentes entre crianças e adolescentes. Ele recomenda aos pais que fiquem atentos e observem se seus filhos estão expostos a ruídos intensos, de mp3 players, celulares, trios elétricos, casas de shows, explosões de fogos de artifícios, e outros tipos de sons que têm volumes muito altos. “Isso pode causar perda auditiva neurossensorial irreversível, por lesão das células sensoriais do aparelho auditivo", alerta.

De acordo com Bahmad, a forma adequada de se utilizar os fones de ouvido é nunca ultrapassar a intensidade média do aparelho. Por exemplo, se o volume do aparelho vai de 0 a 10, você não pode ultrapassar do 5, porque a partir disso, pode gerar perda auditiva. O efeito é cumulativo. A partir da exposição a sons com intensidade de 80 decibéis por um período superior a 30 minutos o aparelho auditivo começa a desenvolver lesões em suas células, que são muito sensíveis.