Interessante o artigo que acabo de ler do psicólogo e escritor Bayard Galvão sobre a educação das nossas crianças, nestas últimas décadas. Tenho pensado muito sobre isso. Se antigamente os pais eram repressores demais e nada podia, descambamos quase sem perceber para o outro extremo, onde a criança pode tudo e tem todas as suas vontades satisfeitas, sem nunca ouvir um não. Na maioria das vezes, o que acontece é que acabamos criando pequenos tiranos, cheios de vontades e que não suportam qualquer frustração. Como esta pessoa, quando adulta, saberá lidar com os problemas inerentes da vida?

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Bayard dá uma contextualizada: Ano de 1997. Os alunos de psicologia foram chamados para assistir a palestra de uma das mais renomadas pedagogas da época. Em determinado momento, ela exclama: As crianças sabem o que é melhor para elas. Precisamos apenas criar o contexto para descobrirem o que é realmente bom para si. Ao mesmo tempo, nas salas de aula, a pergunta de diferentes professores era: Como educar sem frustrar e sem exigir muito das crianças? Para diminuir a frustração e aversão, foi adicionado o "passar de ano sem ter notas o suficiente", afinal, o certo seria avaliar o aluno globalmente. Ainda foi colocada a ideia de que "qualidade é mais importante do que quantidade", ou seja, que duas horas de “boa educação” à noite eram mais que suficientes entre pais e filhos. Soma-se estas ideias ao conceito de melhoria da autoestima, associada ao aumento de elogios e diminuição de críticas.

Segundo o psicólogo, estão aí os ingredientes da bomba implementada em várias escolas no final do século 20: pouca orientação + pouca exigência + muitos elogios + diminuição de punição (como rodar de ano ou ir para a diretoria e ser suspenso) + poucas críticas.

O resultado gritante deste tipo de educação, diz ele, é que os jovens de hoje entram na vida adulta completamente despreparados para lidar com exigências, bullying, profissionais normais (que não passam a mão na cabeça), tornam estudo e trabalho uma tarefa dificílima (que era comum há 20 anos), ficam facilmente incomodados com colegas e chefes, desenvolvem insônia com facilidade, sentem medo de ir trabalhar ou estudar por terem que lidar com situações aversivas comuns, desenvolvem tendência a quadros de ansiedade e/ou depressão, desânimo em relação à vida e até pensamentos suicidas.

Bayard acrescenta: “Eis o efeito da educação "mimimi". E se as coisas não começarem a mudar, isso só tende a piorar”. É de fazer pensar.

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