Poucas manifestações populares têm uma longevidade tão expressiva quanto a Procissão do Senhor dos Passos, tradição religiosa que vem sendo celebrada pelos católicos catarinenses desde o século 18. Naquela época, Florianópolis ainda era apenas a pequena Vila de Nossa Senhora do Desterro, e contava com “algumas poucas milhares de almas”, entre locais e imigrantes recém chegados do Arquipélago dos Açores. Realizada anualmente, sempre 15 dias antes da Páscoa, esta procissão mobiliza uma multidão de fiéis que percorre em cortejo algumas das ruas centrais da Capital. A edição deste ano acontece neste final de semana. Será a de número 252. É muita história reunida nesta demonstração de fé e de religiosidade popular, que vem passando de geração em geração.

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A história desta celebração é bastante curiosa. A primeira procissão aconteceu em 1766. Conta-se que dois anos antes uma embarcação com destino a cidade de Rio Grande (RS) teria feito uma escala para abastecimento na Vila de Desterro, trazendo no seu interior a imagem do Senhor Jesus dos Passos (Jesus com a cruz nos ombros e caído de joelhos), escultura atribuída ao artista baiano Francisco das Chagas, conhecido pela alcunha de "O Cabra". A notícia de que havia uma impressionante imagem de Cristo na embarcação logo se espalhou, e o povo passou a visitá-la diariamente, fazendo pedidos e agradecimentos a seus pés.

Cada vez que a tripulação do navio tentava seguir viagem para o Sul acontecia um imprevisto, ou formava-se uma forte tempestade, impedido a viagem. Após três tentativas frustradas, todo mundo passou a acreditar tratar-se de um sinal divino: a imagem deveria permanecer na cidade, perto daquele povo tão fiel. A imagem de Cristo carregando a cruz tornou-se símbolo de devoção dos desterrenses, nunca mais saindo daqui. Hoje, a Procissão do Senhor dos Passos figura entre os maiores eventos de fé do Brasil, concentrando mais de 60 mil fiéis durante a celebração. É considerada Patrimônio Cultural Imaterial de Santa Catarina, e está em processo de ser registrada como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo IPHAN. Um dos grandes desafios atualmente é atrair o público mais jovem _ um problema sentido em todas as religiões _ para que se mantenha viva a tradição.

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