Viralizou nas redes sociais e vem causando muita comoção e reflexão uma carta que a médica Larissa Alessandra Medeiros escreveu a seus familiares poucos dias antes de morrer, o que aconteceu no último dia 22. Ela era natural de Lages, fez Medicina na UFSC, residência de clínica médica no Hospital Universitário e de hematologia no Hospital Governador Celso Ramos, ambos em Florianópolis. Especializou-se em transplante de medula óssea em Curitiba, onde morava e estava atuando como médica contratada e preceptora no Hospital de Clínicas da UFPR. Ela foi vítima de um câncer de mama metastático.

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Transcrevo alguns trechos da carta porque, apesar dela ter sido escrita para a família, serve de alerta para todos nós. Uma reflexão importante neste final de ano, época na qual tradicionalmente traçamos metas e planos para o futuro.

“Hoje, ter 1, 2, 5 ou 20 milhões num banco; ter um bilhete para uma viagem maravilhosa; um vestido lindo ou poder ir a restaurantes incríveis. Um bom vinho, um doce delicioso… Nada disso eu poderia usufruir agora. Não mudaria minhas chances de cura ou acessos a remédios. Eu também não teria pique e disposição para viajar (não posso me ausentar por mais de 15 dias pela químio, que tem dado muitas reações extras), não posso beber, comer muitos doces. E não tenho ânimo físico para usar um lindo vestido com alegria.

A vaidade de crescer cientificamente, ganhar algo na profissão, prestígio… Nada fica. Perdi tanto tempo com isso. Fui tão tola em vários aspectos… Mas claro que não serei hipócrita: Trabalhar, ter responsabilidades e ter economias são coisas importantes, mas não mais do que viver o hoje. Ter conforto, usufruir das boas coisas da vida valem a pena. Já viver sempre esperando um futuro que pode não chegar é ir morrendo aos poucos.

Então, o que ficou e o que mais me alegra? As boas lembranças dos momentos e experiências que vivi. As risadas, os carinhos, a alegria das viagens que tanto gostava, da comida gostosa fosse caseira ou de um bom restaurante, os sentimentos verdadeiros e o amor puro da família e tantos amigos queridos que redescobri. Sei que nada será tão palpável para vocês como é para mim que precisei passar por isso (doença) para ter tanta clareza de pensamentos. Ouvia isso dos pacientes mas não coloquei em prática. Gostaria que vocês experimentassem sem ter que passar por algo ruim para mudar: brigas, reclamações, vaidades, conflitos. Eles acontecem, mas deixam o ar muito pesado, sugam nossa energia e não levam a nada. Amor, perdão, paz e alegria renovam tudo.

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Tenho vontade de gritar, para todos que quero bem: “Tomem as rédeas de suas vidas! Viajem, namorem, comprem com responsabilidade o que lhes dá prazer. A vida é hoje, só hoje! Não sabemos se viveremos até o futuro, se gozaremos da aposentadoria, se teremos saúde e ânimo para aproveitar. Vivam, vivam! Cada um é dono da sua trajetória. E a vida dará em troca amor verdadeiro, grandes amigos que farão parte da família, e muitas memórias boas.”