Dona Maria descobriu um câncer de mama aos 81 anos. Era pequeno, inicial, e ela pediu aos médicos para não fazer quimio ou radioterapia, pois já tinha acompanhado o tratamento de outras amigas idosas e sabia o quanto foi difícil para elas suportar os efeitos colaterais, principalmente por causa da idade avançada e de outros problemas de saúde já existentes. O médico concordou, até porque o paciente tem todo o direito de escolher se quer ou não ser tratado. Dona Maria está viva até hoje (quatro anos depois da descoberta do câncer), e tem uma qualidade de vida considerada boa para a idade. “Não sei se ainda estaria aqui se tivesse optado pela cirurgia, mas acho que tomei a melhor decisão. Até porque todo mundo tem que morrer um dia, né?”, ela comenta, bem humorada, sempre que alguém lhe questiona sobre o assunto.

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Isso não significa, porém, que nenhum idoso deve ser tratado. Cada caso é um caso, e só o paciente e seu médico podem decidir juntos o que fazer. O câncer é uma doença cada vez mais comum entre as pessoas de idade mais avançada. Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma em cada três mulheres entre 60 e 79 anos têm ou vão desenvolver algum tipo de câncer, já o percentual entre os homens é um pouco menor: um em cada quatro. As doenças cancerígenas tem uma incidência 11 vezes maior dentro dessa faixa etária do que no restante da população. Em 2030 – ano em que o país terá mais idosos do que crianças e jovens de acordo com o IBGE – a mortalidade por câncer terá crescido 45%, conforme previsão da ONU.

O envelhecimento da população e o aumento da incidência de câncer em pacientes idosos estão criando a necessidade de um novo profissional, que alia conhecimentos de oncologia e geriatria. Embora ainda não seja considerada uma especialidade médica, a oncogeriatria ganha mais força a cada dia. Há pouco mais de cinco anos, nem se usava este termo. O Brasil não foi o único a descobrir apenas recentemente a importância deste profissional. Países como Estados Unidos, Bélgica e França caminham a todo vapor para o crescimento constante da oncogeriatria e já são considerados referências mundiais na área.

Segundo o oncologista Elias Abdo, o objetivo da oncogeriatria é buscar o equilíbrio entre qualidade de vida e expectativa de sobrevida do paciente, oferecendo um tratamento multidisciplinar e personalizado. A geriatra Aline Thomaz explica que o tratamento de tumores em idosos se concentra nas necessidades específicas, ou seja, não se trata apenas de considerar a sua idade cronológica. “É preciso levar em consideração as singularidades de cada pessoa. A ideia central é sempre melhorar a qualidade de vida do paciente idoso”, diz ela. Muito importante saber que os médicos estão olhando com atenção especial os doentes idosos, e propondo alternativas de tratamento humanizadas, que respeitam os limites e as vontades de cada um.

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