Encontrei uma velha conhecida na rua, dias atrás. Ela estava caminhando com a mãe, uma senhorinha risonha e falante, que me cumprimentou umas três vezes durante os poucos minutos em que ficamos conversando. Minha amiga parecia muito envelhecida, com olheiras e magra demais, pele e osso. Enquanto a mais idosa se distraía olhando o movimento da rua, a outra chegou mais perto e me disse: mamãe está com Alzheimer, e você não imagina como é difícil cuidar de uma pessoa com essa doença. A gente não tem descanso nunca”. Há seis anos a vida da moça se resume a cuidar da mãe, cada vez mais esquecida e dependente.
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Não é à toa que um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da USP mostrou que a maioria dos cuidadores de pacientes com Alzheimer apresentam sintomas de ansiedade. Eles também têm cerca de cinco vezes mais chance de terem depressão do que as outras pessoas. A psicóloga Luciane Nepounuceno explica que é comum “a carga” de cuidar de uma pessoa com Alzheimer recair apenas sobre uma pessoa, seja por abandono dos demais familiares, seja por dificuldade do doente em aceitar ajuda de outras pessoas. “O cuidador costuma chegar psicologicamente destruído ao consultório”, comenta.
O Alzheimer é uma doença que afeta diretamente os cuidadores, que sofrem com a sobrecarga emocional e física. A rotina imposta pelo quadro do paciente é responsável por gerar um alto nível de estresse ao cuidador. Geralmente inclui cuidados como troca de roupas, higienização do doente, dar alimentação, entreter, estar atento para as locomoções, acompanhamento de remédios e diversas outras atividades. Algumas vezes o quadro ainda é agravado, pois o paciente pode se tornar agressivo. O desgaste físico é notório, já que é comum o cuidador se manter 24 horas em alerta.
As atitudes do paciente são sempre imprevisíveis. Não é possível prever, por exemplo, quando ele vai decidir sair sozinho pela rua, ou tirar a roupa em público, ou até mesmo fazer suas necessidades em locais impróprios. Por isso o cuidador muitas vezes passa a viver apenas para suprir as demandas do paciente. Essa carga de estresse por tempo prolongado desencadeia sintomas de depressão que devem ser tratados com auxílio profissional, diz Luciane. O cuidador não pode deixar de lado os cuidados consigo próprio. Ele precisa estar consciente deste novo cenário e também aceitar as suas próprias limitações, diz a especialista.
Dicas para ajudar o cuidador a diminuir o estresse
– Nunca recorra à racionalidade, tal como "Esse não é o João, é o Pedro". É importante entender que o doente está com a capacidade cerebral comprometida.
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– Rejeição de cuidados. Quando o paciente não aceita o cuidado de uma determinada pessoa, é necessário que ela se afaste por alguns instantes até que se acostume com essa nova presença, introduza a pessoa aos poucos.
– Em casos de negação de onde moram, escute e avise que em breve vocês irão. Caso o paciente insista, dê uma volta na rua.
– Evite explosões de emoções em frente ao paciente. Ele não sabe assimilar o que acontece ao seu redor e pode não encarar de forma natural.