Fui pagar o estacionamento no shopping, dia desses, e duas senhoras que estavam na minha frente na fila não conseguiam entender direito como é que funcionava aquela máquina de cobrança. “Pode me ajudar, minha filha?”, perguntou a que parecia ser a mais nova das duas, beirando os 70 anos, por aí. Disse que sim, claro, e comecei a explicar o passo a passo para elas. ”Passe o código de barras do cartão do estacionamento no leitor, depois coloque seu cartão de débito, a sua senha…”. Nem cheguei a terminar a explicação e a outra senhora já se mostrava indignada. “Onde é que estão aqueles funcionários que ficavam aqui, cobrando isso? É uma barbaridade. Garanto que eles perderam seus empregos e foram substituídos por estas máquinas malditas”. Eu olhei para ela, e senti um pouco de pena. Se para nós, os tais de “meia-idade”, já é difícil acompanhar estas mudanças todas na sociedade, o que dirá para eles, idosos, acostumados a vida inteira a um mesmo sistema e que, de uma hora para a outra, precisam se adequar a uma nova realidade, bem diferente.
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Outro dia foi no supermercado. A fila do caixa preferencial, enorme. As outras também. Eu estava acompanhada da minha mãe, que vai fazer 80 anos. Fomos, então, nos terminais onde o próprio cliente passa suas mercadorias e faz o pagamento com cartão. Em cinco minutos já nos dirigíamos para o carro. Comentei com ela que as máquinas, na maioria das vezes, são nossas aliadas, como foi naquele caso, e que podem agilizar muito a nossa vida. A mãe concordou, mas ressaltou (como já havia feito aquela outra senhora na saída do shopping), que por causa da automação milhares e milhares de pessoas estão perdendo seus empregos. E é verdade.
“Me diz um prédio que você conhece que ainda tem ascensorista”, ela me desafiou. Está aí uma classe inteira que perdeu seus empregos. Fomos viajar, meses atrás, e compramos a passagem pelo site, check-in idem. Embarcamos e voamos sem que eu tenha falado com um atendente do aeroporto sequer, a não ser ao passar pelo raio-x, quando um funcionário nos desejou boa viagem. E os teleatendimentos? Só se ouve gravações, do outro lado da linha. Disque 1 para… Disque 2 para… Minha mãe tem razão, muitos empregos tradicionais estão desaparecendo. Mas, em compensação, outros surgem a cada dia.
As tarefas repetitivas, manuais e administrativas em pouco tempo não serão mais executadas por seres humanos. As pessoas deverão se qualificar para assumir funções mais analíticas, aprendendo a utilizar sua experiência de forma inovadora e exercitar características individuais que passarão a ser mais valorizadas, dizem os especialistas. Só nos Estados Unidos cerca de 1,4 milhão de empregos serão afetados pelas novas tecnologias até 2026. Nos países em desenvolvimento o processo será o mesmo, só que mais lento. Assim como a tecnologia se reinventa, os profissionais também terão que mudar, para que possam acompanhar as transformações do mercado de trabalho. É preciso adquirir novas competências, para não fica sobrando neste novo cenário, que é irreversível.