Cláudia não via a hora de fazer 18 anos para poder dirigir. Ainda mais que o pai dela havia prometido que se passasse no vestibular para Medicina em uma universidade pública, daria à filha um carrinho zero km. Ela estudou muito, passou no primeiro concurso que fez e logo estava fazendo aulas de direção. Só que ela não contava que, ao sentar-se atrás do volante para a primeira aula prática, sentiria um medo paralisante, uma sensação de pânico. As mãos suavam muito e as pernas começaram a tremer. Não adiantou o instrutor da autoescola dizer-lhe que não precisava ter medo, que era normal a insegurança e que tudo daria certo. Resumindo: ela só foi ter coragem para dirigir sozinha depois dos 30 anos, e para chegar neste estágio precisou recorrer à terapia.
Continua depois da publicidade
O caso de Cláudia está longe de ser uma exceção. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet), cerca de dois milhões de brasileiros não dirigem por medo. As mulheres são a maioria (75% dos casos). A psicóloga Neuza Corassa estuda o assunto há 20 anos e é autora do livro “Vença o medo de dirigir”. Ela diz que esse tipo de transtorno atinge, em geral, pessoas extremamente responsáveis, que apresentam um alto grau de exigência consigo mesmas e se preocupam com os outros.
Corassa classifica as pessoas que sofrem de transtornos no trânsito em três grupos. No primeiro estão aquelas que possuem habilitação, mas cujo elevado grau de exigência pessoal as impede de se sentirem aptas a dirigir. Há também aqueles que desistem de tirar a carteira de motorista antes mesmo de passarem pelo exame. Estas pessoas iniciam as aulas, mas não seguem adiante, em razão do medo da reprovação. No terceiro grupo estão os indivíduos que esperam a hora da aposentadoria para começar a dirigir. “Parece que precisam parar tudo para poder cuidar apenas desse assunto. Não conseguem perceber o ato de guiar um automóvel como sendo uma atividade normal em suas vidas”, diz a psicóloga.
Cláudia precisou tratar de seu medo de dirigir durante 12 anos, para só então dizer que está curada. Isso não significa que hoje ela goste de estar ao volante, mas dirigir tornou-se um fato corriqueiro na vida dela, assim como é para a maioria de nós. Corassa afirma que é assim mesmo: a família e os amigos precisam ter paciência e apoiar quem enfrenta o problema. “Elas vão desbloquear o medo, mas no tempo delas”, assegura. E também é preciso ter em mente que muitas pessoas preferem nunca dirigir, e que esta é uma escolha de cada um.
Continua depois da publicidade