Caminhando pelo bairro, ontem, percebi, não sem um pouco de tristeza e melancolia, que a última locadora de filmes da região acaba de fechar suas portas. Cada vez que passava por lá olhava os cartazes para ver se os últimos lançamentos do cinema já haviam chegado em CD. E houve um tempo, não muito distante, que esperava com ansiedade o fim de semana para voltar para casa com uma sacolinha cheia de filmes para uma verdadeira maratona cinematográfica no sábado e domingo. Gostava, também, de garimpar filmes antigos nas prateleiras, e de vez em quando assistir a clássicos que ajudaram a enriquecer a história do cinema mundial.

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Hoje, está tudo (ou quase tudo) nos serviços de streaming e nos canais de TV a cabo. As locadoras não resistiram à modernidade. Sinal dos tempos, dirão todos. Mas me dá uma certa tristeza, parece que as coisas ficam mais fáceis mas ao mesmo tempo perdem o encanto. Eu gostava de pegar as caixas dos filmes, olhar a sinopse, saber quem eram os atores principais e o diretor. Assim como gosto de ler orelhas de livros de papel, sentir o cheiro da tinta e rabiscar as passagens que acho mais interessantes. Gosto desta coisa física, seja do filme, do livro, da fotografia. Sim, também sinto uma ponta de melancolia quando penso em como mudou nossa relação com a fotografia.

Gostava de fotografar, mandar revelar e ampliar e até colocar em álbuns, para ver e rever quando bem entendesse. Tenho caixas e mais caixas em casa. Elas ocupam espaço, eu sei. “É melhor guardar na nuvem”, me dizem. Está tudo lá dentro do computador, é mais prático e mais barato”, falam. Com certeza, mas não é a mesma coisa. Não tem o mesmo encanto. A tecnologia veio para revolucionar as nossas vidas, mas sinceramente às vezes eu acho que mudou rápido demais, e nós, que já passamos da metade da vida, demoramos um pouco mais para nos acostumarmos aos novos tempos.

Fico pensando nas duas jovens que eram donas da última locadora do bairro. Elas viam todos os filmes para poder falar sobre eles e sabiam o gosto de cada cliente, sempre prontas para ajudar a escolher o que levar para casa. Essa humanidade é que parece que estamos perdendo. O contato com as outras pessoas diminui a cada dia. A locadora era também um local de encontro com outras pessoas que gostam de cinema, e muito frequentemente trocávamos informações sobre o que estávamos assistindo. Estamos cada vez mais sós, na frente da TV e dos provedores de filmes e séries de televisão via streaming, como o Netflix. Ou então vidrados nos nossos celulares na mão, muitas vezes trocando mensagens instantâneas com amigos queridos que passamos anos sem ver pessoalmente. É a modernidade, a tecnologia, o futuro. Mas não dá para não sentir uma certa nostalgia.

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