Fui ao cinema assistir Extraordinário, filme baseado no livro de Raquel J. Palacio, que conta a história de um menino de 10 anos que tem uma deformidade facial e que, depois de estudar as séries iniciais em casa com a sua mãe (Julia Roberts), vai frequentar pela primeira vez a escola regular, quando passa para a 5ª série. A partir daí, claro, ele precisa aprender a lidar com o bullying e a maldade dos colegas, que o rejeitam pela aparência. A ideia de dedicar um livro a este tema surgiu quando a escritora, que mora em Nova York, estava em uma sorveteria com os dois filhos. Uma menina com uma grave deformidade facial se aproximou deles. O filho de três anos, assustado, começou a chorar. O outro, de 10, parecia não acreditar no que via. Rapidamente, ela tirou os meninos de perto (não por eles, mas para não magoar a garotinha).

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Raquel não conseguia esquecer o ocorrido, e ficava pensando em como devia ser a vida daquela menina e de sua família, sofrendo com tanta rejeição e preconceito. Foi então que teve a ideia de escrever Extraordinário, eleito um dos melhores livros de 2012 pelo The New York Times e pela Amazon. Para espalhar a mensagem sobre a importância da compaixão, aceitação e gentileza, ela também iniciou uma campanha anti-bullying no site www.choosekind.tumblr.com.

A escritora se inspirou na Síndrome de Treacher Collins para criar o personagem, uma condição genética muito rara, que atinge principalmente os ossos do rosto. O filme poderia ser mais um melodrama tão ao gosto dos norte americanos, mas é muito mais do que isso. Mostra, por exemplo, como se sentem os irmãos de uma criança especial (no caso, uma irmã adolescente), que precisa lidar com a falta de atenção dos pais, os quais, sem se dar conta, acabam dedicando todo seu tempo ao filho que mais necessita de mais cuidados.

Extraordinário tem várias passagens que fazem a gente pensar. Especialmente quem tem filhos. Um dos meninos que mais pratica bullying contra Auggie (o protagonista, interpretado pelo ótimo Jacob Tremblay) por exemplo, é filho de um casal que acha que ele tem razão em não gostar do novo e estranho” colega, já que ele é tão feio “que provoca pesadelos”. Quando o diretor do colégio lhe dá uma suspensão de dois dias pelas suas maldades, os pais ficam injuriados e o tiram do colégio. Quantas vezes assistimos a cenas assim na vida real? Qualquer semelhança não é mera coincidência.

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