Gosta-se ou não de novelas, o fato é que em um país onde milhões de pessoas costumam assistir aos folhetins, assuntos importantes para a sociedade e muitas vezes considerados tabus são trazidos para o debate, ajudando a esclarecer a população. Foi assim com a questão das pessoas transgêneros, ano passado. Agora, o assunto da vez na novela das 21h da Rede Globo, O Outro Lado do Paraíso, é a pedofilia, um tema pesado, ainda mais quando envolve violência dentro da própria família, mas que infelizmente é a realidade de milhares de crianças diariamente no Brasil, e cuja prática hedionda precisa ser combatida (e denunciada) por todos.
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No capítulo de terça-feira, dia 20, o pedófilo Vinícius (Flávio Tolezani), que é delegado de polícia, foi a julgamento acusado de abusar sexualmente de sua enteada Laura (Bella Piero) quando ela era criança. Ao ver que não vai conseguir se livrar da prisão, Vinícius perde o autocontrole e confessa que sentia uma atração irresistível pela enteada. Além disso, no computador dele foram encontradas várias fotos de meninas, que ele mentia à esposa se tratarem de crianças desaparecidas. “Desde que vi Laura pela primeira vez fiquei transtornado por ela. Não me importava a idade. Até você parar de trabalhar, eu tive o que queria, ela morria de medo de mim. Mas aí, depois, já estava grandinha, podia falar”, ele disse à esposa, no tribunal, de onde saiu algemado diretamente para a prisão, onde logo será morto por outro preso.
A novela não diz a quantos anos de prisão o pedófilo foi condenado (deveria falar, para ser ainda mais esclarecedora). Mas a pena varia de 8 a 15 anos, sendo que o condenado tem que cumprir pelo menos dois terços em regime fechado, se não for reincidente. Ou seja, pode ficar recluso pouco mais de cinco anos, e depois voltar à sua vida normal e, provavelmente, cometendo o mesmo crime outras vezes. Enquanto isso, as vítimas destes abusadores, como é o caso mostrado no folhetim, são obrigadas a conviverem o resto de suas vidas com o trauma causado pela violência física e emocional a que foram submetidas. Algumas, infelizmente uma pequena minoria, recebem apoio e tratamento especializado, conseguindo ter uma vida o mais normal possível. Muitas, entretanto, carregam a dor e o sentimento de impotência para sempre, sofrendo caladas, sem denunciar o agressor por medo e vergonha.
A pena do delegado Vinícius _ e de todos os outros abusadores, quando condenados _ são muito brandas, comparadas ao sofrimento eterno de suas vítimas, crianças indefesas. Talvez por pensar assim também Walcyr Carrasco, o autor da novela, tenha optado pela morte do vilão dentro da cadeia.
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