Era estudante de jornalismo, início dos anos 1980. O Enecom (Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação) aconteceria na UFSC. Morávamos no interior do Rio Grande do Sul, e decidimos participar do congresso. Muito mais para conhecer Florianópolis do que propriamente discutir comunicação. Quando passamos pela ponte Colombo Salles em direção à Ilha e vi a linda ponte Hercilio Luz (que já estava interditada ao tráfego desde o ano anterior, 1982), me encantei. Antes de chegar ao fim da Avenida Beira-Mar eu já tinha uma certeza: um dia viria morar nesta cidade.
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Como assistir todas as palestras não era mesmo nossa única intenção, participávamos do Congresso pela manhã e à tarde saíamos para explorar as belezas da cidade. A vista do alto do morro antes de chegar à Lagoa da Conceição me deixou sem ar. O mar, as dunas, o verde (como essa cidade tinha verde 35 anos atrás!), os barquinhos coloridos da pesca artesanal… Parecia uma pintura, de tão linda. Comemos, na beira da lagoa, uma sequência de camarão maravilhosa. E barata, quase inacreditável. Camarão, lá de onde eu vim, era prato de rico. Só em dia especial. Mais uma vez pensei: É o paraíso!
No outro dia fomos para o Norte da Ilha. A SC-401 só tinha duas pistas, uma em cada sentido, e comportava muito bem o trânsito da época. A duplicação só iniciaria 12 anos mais tarde. Jurerê, Canasvieiras e Ingleses já eram frequentadas por turistas, mas a grande maioria da população era gente da terra, os manezinhos. No fim da tarde acompanhamos um arrastão na beira do mar. Dezenas de pescadores, num trabalho sincronizado, puxavam uma rede imensa, que saiu da água carregada de peixes prateados. Era época de tainha. Não entendíamos nada do que eles falavam (cantadinho, cantadinho). Mas aquela cena linda nunca mais esqueci.
O tempo passou. Me formei, trabalhei, casei, tive filhos. O desejo de morar em Florianópolis, entretanto, nunca morreu. Quem sabe após a aposentadoria? Tanta gente faz esta escolha. Porém, não foi preciso esperar tanto. Por essas obras do destino, recebi um convite para um trabalho temporário no jornal. A entrevista foi marcada para o dia 1° de janeiro de 1997, uma quarta-feira. Como era feriado, a cidade estava deserta. Fui torcendo que desse certo. Na segunda-feira seguinte comecei. Mudei para cá num piscar de olhos, e estou até hoje. O que era temporário já dura 21 anos. E neste tempo todo, meu amor por Floripa só cresceu. A cidade tem problemas? Sim, vários. Mas suas qualidades são infinitamente maiores.
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